Já fui bastante assediada, especialmente até aos trinta, trinta e poucos. Acho que, por isso, fui desenvolvendo uma capacidade que me permite notar situações de assédio, ou de simples interesse sexual, à distância. Não só quando sou eu a visada, mas também quando são outras pessoas. Normalmente, reparo no(a) assediador(a) e no(a) assediado(a).
Vou contar-vos uma história que aconteceu comigo quando eu tinha uns quinze ou dezasseis anos.
Nessa altura eu frequentava amiúde as matinés de uma discoteca aqui da terra. Era miúda e era assim que passávamos as tardes chatas de domingo.
Um dia estava com uma amiga à porta da dita discoteca e houve um puto, mais ou menos da minha idade, que me fez uma proposta: pagava-me uma bebida lá dentro se eu curtisse com ele naquela tarde. Eu, que durante a adolescência tinha fama de antipática e petulante (creio que esta última característica se devia essencialmente à minha altura e timidez que, juntas, me faziam parecer uma pessoa petulante), mandei-o à fava com uma grande dose da antipatia que me caracterizava. Mandei-o à fava forte e feio e nunca mais lhe dirigi palavra. Claro que ele ficou todo ofendido, mas, temos pena, antes ficar ele a amarrar o burro do que eu ter de engolir tamanha estupidez. Ponto final na proposta descabida.
Conto esta história porque reflecte um pouco a forma como algumas pessoas não reagem quando são assediadas e porque esta conversa de assédios, às vezes, me irrita um pouco.
Já contei aqui que também fui assediada na rua com direito a piropos porcos e tudo. (Podem procurar, há-de estar por aí). Ou porque ia de mini-saia, ou porque simplesmente ia a passar na rua.
Tenho alguma alergia a situações que ponham em causa a minha privacidade e a liberdade de andar na rua sem que me deitem olhares raio-x ou me digam porcarias. Felizmente hoje isso acontece muito menos vezes.
Talvez por causa desta alergia, prefira sempre ser antipática a ter de aguentar situações de assédio por mais de cinco minutos. Este meu lado antipático foi-me muito útil sempre que precisei de cortar o mal pela raiz. E consegui sempre cortá-lo pela raiz com bastante facilidade. Desde mostrar-lhes como tenho um dedo médio giro quando o estico, até chamar-lhes nomes ou simplesmente os rebaixar ao nível do chão por me atacarem com frases de merda, já fui antipática de todas as maneiras e feitios. Podem crer. Restaram-me alguns traumas que vou tentando resolver ao longo dos anos... Já sou menos antipática e já desenvolvi anticorpos para combater esses agentes patogénicos.
Por tudo isto, faz-me uma certa confusão o movimento #metoo que vem trazer a público tantas situações de assédio (muitas delas profissionais) que aconteceram há tantos anos, e algumas de forma continuada, que de alguma maneira foram permitidas pelas pessoas assediadas. Atenção que quando falo em assédio, não falo em violação, que não é, de todo, a mesma coisa! Não confundam, por favor!
Porque (#metoo) eu também já vi muita coisa com o radar do qual ando provida, vi muitos frirtezinhos que acabaram por se tornar em assédio porque a parte assediada em vez de cortar a cena, foi alimentando o jogo do gato e do rato em seu proveito.
(E agora venham daí aquelas pessoas que acham que as mulheres são sempre vítimas dos homens e que estão sempre inocentes ou são apenas distraídas, que eu estou pronta para as enfrentar).
É que, por mais que possa chocar algumas pessoas mais sensíveis, há assediados(as) que vão entrando no jogo para ir ganhando louros, pontos ou euros. Trocando por miúdos: há quem faça render em seu proveito o facto de ir alimentando a esperança do outro em ir para a cama com ele(a). Alimentam essa esperança às vezes até ao limite e, quando querem sair da cena, é tarde demais, porque o(a) outro(a) está convencido(a) que a caça faz parte do jogo, ou porque o "toca e foge" é charme e não verdade.
Longe de mim desculpar assediadores. Não é disso que aqui se trata, até porque eu já fui tão dura com eles que acho que seria das últimas pessoas a desculpá-los. Mas a verdade é que muitas vezes este jogo é jogado a dois e as situações agravam-se porque não se travam no momento certo e se deixam arrastar ao ponto de se perder o controlo. E quando se perde o controlo é muito mais difícil de o retomar e de pôr fim àquilo que não se quer continuar.
Sem querer atacar, ou culpar, as pessoas assediadas no geral, sei de algumas que se aproveitam do sex appeal para subirem na carreira profissional, ou apenas para verem o seu ego ser lambido, à custa destes jogos de sedução, muitas vezes perigosos para si próprias, e depois vêm chorar sobre leite derramado.
Desculpem lá qualquer coisinha, mas, nestes casos, não consigo vê-las como vítimas, a não ser de si próprias.
Vou contar-vos uma história que aconteceu comigo quando eu tinha uns quinze ou dezasseis anos.
Nessa altura eu frequentava amiúde as matinés de uma discoteca aqui da terra. Era miúda e era assim que passávamos as tardes chatas de domingo.
Um dia estava com uma amiga à porta da dita discoteca e houve um puto, mais ou menos da minha idade, que me fez uma proposta: pagava-me uma bebida lá dentro se eu curtisse com ele naquela tarde. Eu, que durante a adolescência tinha fama de antipática e petulante (creio que esta última característica se devia essencialmente à minha altura e timidez que, juntas, me faziam parecer uma pessoa petulante), mandei-o à fava com uma grande dose da antipatia que me caracterizava. Mandei-o à fava forte e feio e nunca mais lhe dirigi palavra. Claro que ele ficou todo ofendido, mas, temos pena, antes ficar ele a amarrar o burro do que eu ter de engolir tamanha estupidez. Ponto final na proposta descabida.
Conto esta história porque reflecte um pouco a forma como algumas pessoas não reagem quando são assediadas e porque esta conversa de assédios, às vezes, me irrita um pouco.
Já contei aqui que também fui assediada na rua com direito a piropos porcos e tudo. (Podem procurar, há-de estar por aí). Ou porque ia de mini-saia, ou porque simplesmente ia a passar na rua.
Tenho alguma alergia a situações que ponham em causa a minha privacidade e a liberdade de andar na rua sem que me deitem olhares raio-x ou me digam porcarias. Felizmente hoje isso acontece muito menos vezes.
Talvez por causa desta alergia, prefira sempre ser antipática a ter de aguentar situações de assédio por mais de cinco minutos. Este meu lado antipático foi-me muito útil sempre que precisei de cortar o mal pela raiz. E consegui sempre cortá-lo pela raiz com bastante facilidade. Desde mostrar-lhes como tenho um dedo médio giro quando o estico, até chamar-lhes nomes ou simplesmente os rebaixar ao nível do chão por me atacarem com frases de merda, já fui antipática de todas as maneiras e feitios. Podem crer. Restaram-me alguns traumas que vou tentando resolver ao longo dos anos... Já sou menos antipática e já desenvolvi anticorpos para combater esses agentes patogénicos.
Por tudo isto, faz-me uma certa confusão o movimento #metoo que vem trazer a público tantas situações de assédio (muitas delas profissionais) que aconteceram há tantos anos, e algumas de forma continuada, que de alguma maneira foram permitidas pelas pessoas assediadas. Atenção que quando falo em assédio, não falo em violação, que não é, de todo, a mesma coisa! Não confundam, por favor!
Porque (#metoo) eu também já vi muita coisa com o radar do qual ando provida, vi muitos frirtezinhos que acabaram por se tornar em assédio porque a parte assediada em vez de cortar a cena, foi alimentando o jogo do gato e do rato em seu proveito.
(E agora venham daí aquelas pessoas que acham que as mulheres são sempre vítimas dos homens e que estão sempre inocentes ou são apenas distraídas, que eu estou pronta para as enfrentar).
É que, por mais que possa chocar algumas pessoas mais sensíveis, há assediados(as) que vão entrando no jogo para ir ganhando louros, pontos ou euros. Trocando por miúdos: há quem faça render em seu proveito o facto de ir alimentando a esperança do outro em ir para a cama com ele(a). Alimentam essa esperança às vezes até ao limite e, quando querem sair da cena, é tarde demais, porque o(a) outro(a) está convencido(a) que a caça faz parte do jogo, ou porque o "toca e foge" é charme e não verdade.
Longe de mim desculpar assediadores. Não é disso que aqui se trata, até porque eu já fui tão dura com eles que acho que seria das últimas pessoas a desculpá-los. Mas a verdade é que muitas vezes este jogo é jogado a dois e as situações agravam-se porque não se travam no momento certo e se deixam arrastar ao ponto de se perder o controlo. E quando se perde o controlo é muito mais difícil de o retomar e de pôr fim àquilo que não se quer continuar.
Sem querer atacar, ou culpar, as pessoas assediadas no geral, sei de algumas que se aproveitam do sex appeal para subirem na carreira profissional, ou apenas para verem o seu ego ser lambido, à custa destes jogos de sedução, muitas vezes perigosos para si próprias, e depois vêm chorar sobre leite derramado.
Desculpem lá qualquer coisinha, mas, nestes casos, não consigo vê-las como vítimas, a não ser de si próprias.
Comentários
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Vá lá, digam qualquer coisinha...
...por mais tramada que seja...