Estou sentada no sofá do supermercado junto aos livros.
Incrivelmente este supermercado tem um sofá para quem vê livros. Confesso que sou uma parasita das livrarias, daquelas que lêem muitos pedaços de literatura e raramente compram alguma coisa. Namoro livros durante meses, às vezes anos e só os compro quando já se criou uma certa intimidade entre mim e eles, ou entre mim e os seus autores.
Também compro por impulso, mas é mais raro agora que tenho menos dinheiro para consumismos.
Hoje, levo comigo para o sofá o Lobo Antunes e o Rodrigo Guedes de Carvalho. Vou lendo pedaços de um e de outro. Salto capítulos, reviro os livros e escolho páginas aleatórias na tentativa de entrar nas histórias e nas palavras. Mergulho em parágrafos que me marcam, afundo-me em frases que me fazem eco. Volto à superfície.
Por momentos, desvio o olhar dos livros para perceber o que se passa à minha volta. Entram e saem pessoas do supermercado. Há um homem que passa de guarda-chuva em punho como se fosse uma espingarda. Talvez por sugestão do Lobo Antunes, vejo-o mesmo de espingarda na mão.
Vejo muitas coisas por sugestão. Desde que sou míope que vejo garupas de cavalos nas costas das pessoas, confundo modos de andar com o trote dos animais ou vejo leopardos nas corridas das crianças pequenas pelas ruas das cidades. São lapsos de pura ilusão aliados a uma deficiência óptica. A imaginação leva-me a lugares onde nunca fui. Por breves momentos, por segundos, vivo uma muito minha realidade. Não me preocupo com ela, saboreio-a apenas. Saio desse mundo imaginário tão rápido quanto lá fui parar. É assim quase desde que me lembro de observar as pessoas na rua. Já faz parte de mim.
Pouso o Lobo Antunes e o Rodrigo. Levo agora o Carlos Ruiz Zafón. Há poucas opções literárias nos supermercados. Há as novidades e pouco mais. Prefiro parasitar livrarias a sério com muita escolha por onde divagar: assuntos técnicos e científicos, policiais, literatura nacional e internacional, clássicos e novos autores. Salto de prateleira em prateleira. Levo três ou quatro livros comigo de cada vez para o sofá. Fico horas a cirandar entre estilos literários, entre vozes mais ou menos características dos autores que leio (gosto de os ouvir segredarem-me palavras que só a eles pertencem), entre histórias reais ou ficcionais, ensaios, dissertações... Gosto muito de cirandar entre livros. É como se todos aqueles mundos me pertencessem. Ou eu a eles. Não sei.
As livrarias são dos poucos lugares onde ainda consigo ir buscar uma boa dose de prazer. As livrarias e o campo. Talvez seja o apelo das árvores... ora em madeira viva, ora em papel cheio de vidas. São lugares que me conseguem retribuir grandes porções do pouco que ainda vou dando de mim. Dou pouco, é verdade, cada vez menos. Por isso, trazer muito é ficar em dívida. Estou em dívida para com as livrarias e os campos. Creio que tenho o barómetro de dar e receber desafinado. Ou mesmo completamente avariado. Não lhe faço a manutenção devida, como não a faço a outras coisas igualmente importantes. Ando desafinada, avariada... Avariei-me quando enveredei em procuras infrutíferas de mim. Faz tempo...
Continuo em procuras que espero mais férteis. Por entre livros e árvores.
Quem sabe um dia não me cai um fruto no colo?
Incrivelmente este supermercado tem um sofá para quem vê livros. Confesso que sou uma parasita das livrarias, daquelas que lêem muitos pedaços de literatura e raramente compram alguma coisa. Namoro livros durante meses, às vezes anos e só os compro quando já se criou uma certa intimidade entre mim e eles, ou entre mim e os seus autores.
Também compro por impulso, mas é mais raro agora que tenho menos dinheiro para consumismos.
Hoje, levo comigo para o sofá o Lobo Antunes e o Rodrigo Guedes de Carvalho. Vou lendo pedaços de um e de outro. Salto capítulos, reviro os livros e escolho páginas aleatórias na tentativa de entrar nas histórias e nas palavras. Mergulho em parágrafos que me marcam, afundo-me em frases que me fazem eco. Volto à superfície.
Por momentos, desvio o olhar dos livros para perceber o que se passa à minha volta. Entram e saem pessoas do supermercado. Há um homem que passa de guarda-chuva em punho como se fosse uma espingarda. Talvez por sugestão do Lobo Antunes, vejo-o mesmo de espingarda na mão.
Vejo muitas coisas por sugestão. Desde que sou míope que vejo garupas de cavalos nas costas das pessoas, confundo modos de andar com o trote dos animais ou vejo leopardos nas corridas das crianças pequenas pelas ruas das cidades. São lapsos de pura ilusão aliados a uma deficiência óptica. A imaginação leva-me a lugares onde nunca fui. Por breves momentos, por segundos, vivo uma muito minha realidade. Não me preocupo com ela, saboreio-a apenas. Saio desse mundo imaginário tão rápido quanto lá fui parar. É assim quase desde que me lembro de observar as pessoas na rua. Já faz parte de mim.
Pouso o Lobo Antunes e o Rodrigo. Levo agora o Carlos Ruiz Zafón. Há poucas opções literárias nos supermercados. Há as novidades e pouco mais. Prefiro parasitar livrarias a sério com muita escolha por onde divagar: assuntos técnicos e científicos, policiais, literatura nacional e internacional, clássicos e novos autores. Salto de prateleira em prateleira. Levo três ou quatro livros comigo de cada vez para o sofá. Fico horas a cirandar entre estilos literários, entre vozes mais ou menos características dos autores que leio (gosto de os ouvir segredarem-me palavras que só a eles pertencem), entre histórias reais ou ficcionais, ensaios, dissertações... Gosto muito de cirandar entre livros. É como se todos aqueles mundos me pertencessem. Ou eu a eles. Não sei.
As livrarias são dos poucos lugares onde ainda consigo ir buscar uma boa dose de prazer. As livrarias e o campo. Talvez seja o apelo das árvores... ora em madeira viva, ora em papel cheio de vidas. São lugares que me conseguem retribuir grandes porções do pouco que ainda vou dando de mim. Dou pouco, é verdade, cada vez menos. Por isso, trazer muito é ficar em dívida. Estou em dívida para com as livrarias e os campos. Creio que tenho o barómetro de dar e receber desafinado. Ou mesmo completamente avariado. Não lhe faço a manutenção devida, como não a faço a outras coisas igualmente importantes. Ando desafinada, avariada... Avariei-me quando enveredei em procuras infrutíferas de mim. Faz tempo...
Continuo em procuras que espero mais férteis. Por entre livros e árvores.
Quem sabe um dia não me cai um fruto no colo?
Comentários
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Vá lá, digam qualquer coisinha...
...por mais tramada que seja...