A propósito do vídeo abaixo que vi no Facebook, lembrei-me de vos contar duas ou três situações que aconteceram comigo na minha última ida ao Amoreiras, relacionadas com o nível de educação a que lá costumo assistir.
Antes, faço uma pequena introdução para que melhor entendam onde quero chegar.
No domingo passado, calhou ir ao Amoreiras. Já lá tínhamos ido noutras ocasiões e, confesso-vos, não é um dos locais que goste especialmente de ir ou estar. Aquilo é muito mal frequentado. Dá a ideia que é um local que atrai gente mal educada...
Quem conhece este centro comercial sabe que é frequentado por muita gente da chamada "camada média/alta" da sociedade lisboeta. Tem alguns atractivos dirigidos a esta classe, como os restaurantes de fast food serem a atirar para o fino, bem mais caros do que noutros centros comerciais; as lojas serem de marcas caras com funcionários que não nos largam e com muita roupa de beto; haver a possibilidade de nos cruzarmos com uma qualquer figura pública... O facto de o centro estar munido de uma capela (coisa que nunca vi noutro centro comercial), também não me parece que seja uma coincidência.
Logo, o que mais se vê por lá são tias e tios e pseudo-tias e pseudo-tios endinheirados, ou pseudo-endinheirados.
Partir do cliché que pessoas com mais dinheiro terão maior acesso a educação é uma falácia. E o Amoreiras comprova-o, pois o ambiente que aqui se vive não é de todo dotado de educação e respeito pelo próximo. Antes pelo contrário, parece estar em défice nestas duas coisas.
Logo, o que mais se vê por lá são tias e tios e pseudo-tias e pseudo-tios endinheirados, ou pseudo-endinheirados.
Partir do cliché que pessoas com mais dinheiro terão maior acesso a educação é uma falácia. E o Amoreiras comprova-o, pois o ambiente que aqui se vive não é de todo dotado de educação e respeito pelo próximo. Antes pelo contrário, parece estar em défice nestas duas coisas.
Sem querer ser preconceituosa, que não sou, fui ganhando algumas imunidades a este tipo de gente que aparenta uma coisa e é outra completamente diferente.
Apelidar gente endinheirada ou pseudo-endinheirada de mal-educada seria cair no mesmo erro de dizer que todos os ciganos são ladrões ou que todos os pobres são rudes. Armadilha, esta, em que me recuso a cair, por isso não generalizo e resumo-me a contar episódios.
A verdade é que estes ambientes não me agradam, porque como vão perceber quando vos contar as situações que vou observando cada vez que vou a este espaço, isto, que parece preconceito, acaba por ser quase um estudo científico das espécies. Digo eu, claro, baseando-me apenas na quantidade de vezes que acontecem com o mesmo tipo de pessoas e nas hipóteses que vou formulando à volta da observação sistemática e controlada e dos factos que vou recolhendo.
Apelidar gente endinheirada ou pseudo-endinheirada de mal-educada seria cair no mesmo erro de dizer que todos os ciganos são ladrões ou que todos os pobres são rudes. Armadilha, esta, em que me recuso a cair, por isso não generalizo e resumo-me a contar episódios.
A verdade é que estes ambientes não me agradam, porque como vão perceber quando vos contar as situações que vou observando cada vez que vou a este espaço, isto, que parece preconceito, acaba por ser quase um estudo científico das espécies. Digo eu, claro, baseando-me apenas na quantidade de vezes que acontecem com o mesmo tipo de pessoas e nas hipóteses que vou formulando à volta da observação sistemática e controlada e dos factos que vou recolhendo.
Outra coisa que é do conhecimento geral, das pessoas que já foram ao Amoreiras, é que as portas que dão para a rua não são automáticas. Portanto, temos de as empurrar, ou puxar, se as queremos abrir.
Como fumadora que sou, vou à rua várias vezes fumar uns cigarritos e - não por gentileza, porque não gosto da palavra, mas por respeito pelos outros, que prefiro - quando abro a porta para sair, tenho por hábito segurá-la para a pessoa que vem a seguir ou até dar passagem a pessoas com sacos e esperar que passem para largar a porta. Faço isto a qualquer pessoa independentemente da idade, sexo, raça ou crença religiosa, não por ser boazinha, que também não sou, mas por aquela coisa a que chamo respeito.
Ora finda a introdução, e esperando que consigam "morder" o ambiente descrito, vamos às situações começando pela questão das portas não serem automáticas.
Situação 1: A seguradora de portas com visibilidade intermitente
Este domingo, aconteceu-me abrir a porta a dois tipos de pessoas diferentes: a uma "tia" e a uma rapariga sem pretensões socioeconómicas aparentes, ou seja, a uma miúda simples, da camada média/baixa lisboeta.
Quando abri a porta à "tia", ela não me deve ter reconhecido como sua sobrinha, porque não agradeceu e, nem sequer, olhou para mim. (Acho que deve ter pensado que a porta era automática, tal a ignorância da minha presença como seguradora de portas!)
Quando abri a porta à rapariga sem pretensões socioeconómicas aparentes, esta fez-me um sorriso de orelha a orelha e agradeceu com um tímido "obrigada". Acho que a rapariga deve ir lá mais vezes do que a "tia", já que sabia perfeitamente que a porta não era automática e que para se abrir precisava de alguém que a puxasse ou empurrasse e segurasse).
Uma das hipóteses que coloco é: Será que gozo de uma invisibilidade intermitente? Se sim, tenho que arranjar maneira de aproveitar isto.
Uma das hipóteses que coloco é: Será que gozo de uma invisibilidade intermitente? Se sim, tenho que arranjar maneira de aproveitar isto.
Situação 2: A mulher das moedas
Enquanto fumo cigarros, entretenho-me a observar as pessoas que vão passando ou que estão por ali. Neste dia, deu-me para observar uma mulher que estava a pedir moedas a quem saía do centro comercial. A mulher pedia moedas a toda gente e também me tinha pedido a mim. (Ultimamente não dou dinheiro a ninguém e, antes que me vejam com a história da época natalícia, aviso já que sou ateia e alérgica ao Natal e que não dou dinheiro porque também não o tenho para mim, já que não tenho nem um emprego nem um salário.)
Adiante.
A mulher das moedas, mal viu um carrinho de bebé aproximar-se da porta, foi prontamente abri-la, sabendo - porque as portas são de vidro e, por isso, transparentes - que quem vinha a empurrar o carrinho de bebé era um casal de raça cigana.
Abriu e segurou a porta até toda a família passar, sem pedir a moedinha em troca da cortesia. O casal agradeceu. Coisa simples que as pessoas normais como a mulher das moedas e o casal do carrinho de bebé fazem umas às outras por atenção ao próximo, sem segundas intenções.
Hipótese: A nossa visibilidade depende de quem nos vê?
Abriu e segurou a porta até toda a família passar, sem pedir a moedinha em troca da cortesia. O casal agradeceu. Coisa simples que as pessoas normais como a mulher das moedas e o casal do carrinho de bebé fazem umas às outras por atenção ao próximo, sem segundas intenções.
Hipótese: A nossa visibilidade depende de quem nos vê?
Situação 3: Passagem pela terra dos mortos-vivos
Quem costuma vir aqui, à minha chafarica, sabe que tenho uma pancada por livrarias. No domingo, como não poderia deixar de ser, além de ao cinema, fui à Bertrand.
A Bertrand do Amoreiras tem uma escada que separa o andar térreo da livraria de uma espécie de mezzanine, onde existem mais estantes com livros de temáticas variadas.
Depois de ler quase um capítulo inteiro de um livro, decidi largá-lo e deixar alguma coisa para ler quando o comprasse e fui dar uma volta pela livraria à procura de mais estantes e livros.
Vi a escada e decidi ir bisbilhotar o que havia lá por cima.
Quando me aproximo da escada, deparo-me com duas "tias" a conversarem mesmo à entrada dos primeiros degraus. Peço licença para passar. Não se mexem, nem desviam o olhar para mim, ali, em espera, parada à frente das duas. Espero uns segundos e volto a pedir licença. As "tias" nada. Não se mexem, não interrompem a conversa, não levantam os olhos na minha direcção.
Penso que talvez sejam surdas, mas como conversam sem ser por linguagem gestual, depressa afasto a ideia. Passo entre as duas, pelo único espaço onde eu cabia para conseguir chegar à escada. Voltam a não se mexerem e a não se desviarem, continuando como que paralisadas, mas a conversar uma com a outra.
Começo a colocar a hipótese de terem os pés colados ao chão ou de que estejam numa dimensão paralela, onde só é permitida entrada a "tias".
A hipótese de estarem mortas e de que eu tenha de repente adquirido poderes mediúnicos e seja capaz de ver mortos sem que, porém, eles me consigam ver ou ouvir começa a fazer sentido na minha mente perturbada. Assim como nos filmes, mas ao contrário, já que sou eu que vejo os mortos e eles não fazem ideia da minha presença.
A hipótese de estarem mortas e de que eu tenha de repente adquirido poderes mediúnicos e seja capaz de ver mortos sem que, porém, eles me consigam ver ou ouvir começa a fazer sentido na minha mente perturbada. Assim como nos filmes, mas ao contrário, já que sou eu que vejo os mortos e eles não fazem ideia da minha presença.
Como a minha mente se tem visto a braços com algumas irregularidades de raciocínio, começo a dar início a uma espécie de pesquisa científica aprofundada para não me dispersar e ponho também a hipótese de, no andar de cima, me esperarem livros de terror ou fantásticos, tal a cena me parece surreal; ou que a cena das "tias" foi criada pela Bertrand para tornar a coisa mais real e proporcionar uma nova experiência aos clientes levando-os ao mundo dos mortos antes de entrarem na secção de terror.
Confesso que estive quase a desistir de ir ao andar de cima, porque como não gosto de livros de terror ou fantásticos, aquela podia ser uma viagem em vão ou haver a possibilidade de encontrar por lá personagens dos livros em carne e osso.
Pensei: "Já que chegaste até aqui, não é agora que te vais amedrontar. Sê mulherzinha e sobe as escadas de cabeça erguida!". E, cheia de determinação, pus um pé decidido no primeiro degrau entre-tias.
Uma das "tias" tinha um saquinho de papel pendurado no pulso que, à minha passagem, mexeu com o toque subtil da minha anca. (Sim, tenho umas ancas delicadas!) Pedi desculpa à "tia" do saquinho pelo toque, mas esta continuou alheia à minha presença e não tugiu nem mugiu.
No andar de cima não encontrei nada assustador. Tinha mais livros técnicos do que de outras temáticas e não encontrei ali nada que justificasse tamanho aparato junto às escadas.
Realmente, quando voltei para baixo as "tias" tinham desaparecido. Quiçá não tinham sido apenas fruto da minha imaginação...
Pensei: "Já que chegaste até aqui, não é agora que te vais amedrontar. Sê mulherzinha e sobe as escadas de cabeça erguida!". E, cheia de determinação, pus um pé decidido no primeiro degrau entre-tias.
Uma das "tias" tinha um saquinho de papel pendurado no pulso que, à minha passagem, mexeu com o toque subtil da minha anca. (Sim, tenho umas ancas delicadas!) Pedi desculpa à "tia" do saquinho pelo toque, mas esta continuou alheia à minha presença e não tugiu nem mugiu.
No andar de cima não encontrei nada assustador. Tinha mais livros técnicos do que de outras temáticas e não encontrei ali nada que justificasse tamanho aparato junto às escadas.
Realmente, quando voltei para baixo as "tias" tinham desaparecido. Quiçá não tinham sido apenas fruto da minha imaginação...
Situação 4: A casa-de-banho do demo
Sou relativamente culta no que diz respeito a casas-de-banho. Vou amiúde fazer o meu xixi em casas-de-banho que não a da minha de casa. Sim, é uma chatice, mas tem mesmo que ser, porque não tenho uma bexiga com grande capacidade de armazenamento.
Antes de passar pela terra dos mortos-vivos, já tinha ido a este quinto dos infernos que, não estando em chamas, estava... como poderei dizer?... em mijo.
A minha larga experiência em casas-de-banho públicas e semi-públicas tem permitido que, a partir delas, eu já consiga, sem grande margem de erro, delinear o perfil do utilizar-tipo do espaço em que me encontro.
As do Amoreiras dizem-me sempre coisas imundas sobre quem as utiliza. Desde papel higiénico espalhado pelo chão em diversos pontos estratégicos, até poças de mijo e garrafas de água vazias a cobrirem o pouco espaço existente para pôr os pés enquanto se urina, até sanitas demoniacamente sujas, há por ali quase tudo.
Na bicha para as sanitas, juntam-se várias mortas-vivas como as da livraria que não mexem um pé para dar passagem a quem quer ir fazer o seu xixi. Espalham-se em frente aos espelhos a retocar maquilhagens e a ocupar o espaço de quem precisa de lavar as mãos. Sim, porque lavar as mãos ali é imperativo e não dá para saltar este passo antes de sair daquele inferno.
Hipótese: Será as casas-de-banho do Amoreiras são uma espécie de purgatório do qual quem consegue sair dali vivo tem cartão de entrada directa para o céu?
Facto: A capela não é muito longe destas casas-de-banho a que fui.
Hipótese 2: Poderá ser esta uma sinergia entre capela e casa-de-banho para nos levar mais depressa para os céus?
No final deste texto podem ficar com a impressão de que sou extremamente preconceituosa, mas, digo-vos, já fui a muitos centros comerciais e também àqueles que se enchem de sósias do Ronaldo em versão tuga-do-bairro-social e não me acontecem situações como estas com tanta frequência.
Em minha defesa, penso que terei o método científico que utilizo na observação destas espécies, já que observo, recolho factos e formulo hipóteses... Só ainda não me dediquei à teoria científica, mas aguardem que seguramente, e em breve, lá chegarei.
As do Amoreiras dizem-me sempre coisas imundas sobre quem as utiliza. Desde papel higiénico espalhado pelo chão em diversos pontos estratégicos, até poças de mijo e garrafas de água vazias a cobrirem o pouco espaço existente para pôr os pés enquanto se urina, até sanitas demoniacamente sujas, há por ali quase tudo.
Na bicha para as sanitas, juntam-se várias mortas-vivas como as da livraria que não mexem um pé para dar passagem a quem quer ir fazer o seu xixi. Espalham-se em frente aos espelhos a retocar maquilhagens e a ocupar o espaço de quem precisa de lavar as mãos. Sim, porque lavar as mãos ali é imperativo e não dá para saltar este passo antes de sair daquele inferno.
Hipótese: Será as casas-de-banho do Amoreiras são uma espécie de purgatório do qual quem consegue sair dali vivo tem cartão de entrada directa para o céu?
Facto: A capela não é muito longe destas casas-de-banho a que fui.
Hipótese 2: Poderá ser esta uma sinergia entre capela e casa-de-banho para nos levar mais depressa para os céus?
No final deste texto podem ficar com a impressão de que sou extremamente preconceituosa, mas, digo-vos, já fui a muitos centros comerciais e também àqueles que se enchem de sósias do Ronaldo em versão tuga-do-bairro-social e não me acontecem situações como estas com tanta frequência.
Em minha defesa, penso que terei o método científico que utilizo na observação destas espécies, já que observo, recolho factos e formulo hipóteses... Só ainda não me dediquei à teoria científica, mas aguardem que seguramente, e em breve, lá chegarei.