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Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2017

Ler e escrever

Há uma candura e uma vontade de regressar à infância de quem lê e escreve. Ler, e escrever, vai para lá do que é o real. Leva-nos para um mundo imaginário, conduzido por quem escreve, mas só nosso, tão pessoal. Talvez por isso, ler e escrever sejam estreitos encontros com a solidão... Quando se lê um livro, mergulha-se numa dimensão à parte. Trilha-se um caminho de ficção e trilha-se outro que só existe no nosso interior. Percorrem-se as dúvidas e as certezas, os sonhos e a realidade, como se fossem sempre tão próximos. Parte-se da fantasia para a existência, sem nunca se sair completamente de dentro de nós. Ler, e escrever, é uma viagem ao tempo em que a imaginação nos comandava as emoções. É explorar o quarto escuro que nos apavorava ou os jardins que nos deslumbravam. É ir, e não voltar, aos lugares onde nos sentíamos sós e incompletos, mas ao mesmo tempo cheios de desconhecimento, inocência e ilusão. Ler, e escrever, é um exercício egoísta, em que não cabe lá mais ninguém para

Afectos e machismo

Imagem DAQUI . Todo o documento  AQUI Temos um PR adorado pelos seus abraços e beijinhos; Temos um acórdão do Tribunal da Relação do Porto que cita a Bíblia para desculpar a violência doméstica exercida sobre uma mulher adúltera. Proponho o seguinte exercício: - Imaginar que o PR era uma mulher que investia em abraços e beijinhos aos populares; - Imaginar que o acórdão desculpava a violência doméstica exercida sobre um homem adúltero. Que resultado obteríamos deste exercício? Calculo que surgiria a teoria de que a PR seria uma promíscua, carente de afectos, ou que se estaria a "atirar" a todo homem que lhe aparecesse à frente... Calculo que o homem agredido seria achincalhado por permitir sofrer violência doméstica por parte de uma mulher e que, em simultâneo, seria perdoado do adultério, tanto por ter uma mulher violenta, quanto por ter "carne fraca"... Enquanto condicionarmos a nossa avaliação das situações pelos géneros dos intervenientes, estaremos se

O Pintas

Fotografia DAQUI Estudei Gestão Equina numa terra no centro de Portugal. A escola dividia-se entre uma antiga escola, no centro da aldeia, convertida em internato masculino e salas de aulas e uma herdade a uns setecentos ou oitocentos metros já quase fora da localidade. Os alunos tinham aulas ora na escola, ora na herdade e seguiam geralmente a pé de um lado para o outro. Um dia, o Pintas apareceu por lá (já não me lembro bem onde o encontrámos pela primeira vez), um cão talvez arraçado de dálmata, pois era branco com pintas negras. Deram-lhe o nome de "Pintas", mas havia quem o chamasse de "Beethoven". Na verdade, podiam chamá-lo como quisessem que o cão reconhecia quando a conversa era com ele. O Pintas fazia o caminho herdade/escola e escola/herdade vezes sem conta. Penso que a intenção era acompanhar os seus amigos preferidos no caminho que separava as duas instalações escolares... Seguia a nosso lado como se fosse mais um aluno. Deixava-nos na

Ensinar é estimular a curiosidade

Estamos a matar a infância das nossas crianças!

Se há cerca de vinte, trinta anos, não se sabia tanto quanto se sabe hoje sobre pedagogia, psicologia ou educação, actualmente este conhecimento é muito mais vasto. Tão vasto que tendemos a instrumentalizar a forma como educamos as nossas crianças. Olhamos para os nosso filhos e vemo-los como projectos pessoais. Queremos que sejam os melhores e sempre melhores que eles próprios, que estejam sempre a evoluir para que sejam bem sucedidos na vida. É normal, porque independentemente das nossas crenças, queremos o melhor para eles, porque os amamos. Mas esta forma de amar e de os tentar conduzir para o sucesso está a matar-lhes a infância.  Não são poucas as vezes que ouvimos coisas do género:  "Quero que o Rui seja um óptimo engenheiro";  "Estou a fazer tudo para que a Ana seja a melhor professora que já leccionou";  "O que mais quero é que o André vença no mundo do trabalho como o melhor designer gráfico". Também dizemos que A ou B tem que