Não sendo eu muçulmana ou coisa que me valha, às vezes gosto de estar vestida na praia.
Gosto de lá estar como se estivesse numa esplanada, a ler um livro e a cheirar a brisa do mar. Só que, em vez de estar sentada à mesa e ter de consumir alguma coisa para poder ficar ali, estou na toalha, vestida como se estivesse na rua, com roupa da cabeça aos pés. Pronto, aos pés não, porque se há coisa que me agrada é andar descalça.
Gosto de lá estar como se estivesse numa esplanada, a ler um livro e a cheirar a brisa do mar. Só que, em vez de estar sentada à mesa e ter de consumir alguma coisa para poder ficar ali, estou na toalha, vestida como se estivesse na rua, com roupa da cabeça aos pés. Pronto, aos pés não, porque se há coisa que me agrada é andar descalça.
Num destes fins-de-semana estive no Algarve e foi assim que fui à praia. Até porque não levei biquíni e, como não sou escrava do bronze nem da exibição física nem tomo muitos banhos de mar, estive como me apeteceu no momento e naquele momento apeteceu-me ficar vestida.
Sei que isto pode ter várias causas para além de simplesmente me apetecer... Talvez uma delas seja eu ser uma loira de 1,80 m num país de homens morenos e baixinhos e ter sofrido - cedo demais e por largos anos - olhares e outras formas de expressão que denotavam um assédio constante e hoje prefira passar despercebida por entre as multidões...
O facto de estar vestida de uma forma discreta dá-me a tranquilidade e, até, a privacidade que dantes, quando vestia algo potencialmente sexy, não sentia. Talvez também por isso estar parcialmente despida em público não me faça sentir bem, antes pelo contrário. Podem chamar-lhe traumas que talvez sejam mesmo, mas a forma que arranjei para me sentir menos exposta e, consequentemente, melhor, foi vestir-me de maneira confortável e discreta.
Pode parecer estranho, mas, na verdade, sinto que ganhei muito nas relações pessoais a partir do momento em que deixei de usar um decote ou uma mini-saia que distraia os meus interlocutores. Hoje, sinto que falam mais comigo do que com as minhas mamas e isso é mais agradável.
Atenção: Não tenho absolutamente nada contra quem usa decotes e mini-saias ou até quem prefira andar nu. Sou pela liberdade plena quanto a isso e defendo que as pessoas devem andar como muito bem entenderem sem que as incomodem ou critiquem.
Mas eu optei por me sentir bem e, para me sentir bem, preciso de ser eu a controlar a minha privacidade, a qual sofria constantes atendados quando me espreitavam para dentro do decote ou me diziam coisas que passavam a barreira da intimidade. A minha intimidade, que muito preservo, só é partilhada com quem quero e quando quero, por isso não estou para me andar sempre chatear nem a ter que mandar à merda pessoas que julgam que um decote ou uma mini-saia lhes dá o direito de desrespeitarem os outros.
Há ainda outras possíveis causas para me apetecer andar vestida na praia, mas hoje não vos vou maçar com isso.
Adiante.
Naquele dia na praia, olhei em volta e percebi que era a única pessoa vestida. Toda a gente estava em fatos-de-banho.
Imaginei-me de burquíni... Se eu, em vez de estar com uma saia pelo joelho e uma camisola de mangas cavas, estivesse de burquini, tenho a certeza que me olhariam de esguelha e que reprovariam a minha vestimenta, mas como estava com roupas "normais", não sofri desses olhares maldosos. Talvez alguns críticos, mas maldosos não.
No entanto, continuei a ser um alien naquele planeta de corpos desnudados...
Sei que isto pode ter várias causas para além de simplesmente me apetecer... Talvez uma delas seja eu ser uma loira de 1,80 m num país de homens morenos e baixinhos e ter sofrido - cedo demais e por largos anos - olhares e outras formas de expressão que denotavam um assédio constante e hoje prefira passar despercebida por entre as multidões...
O facto de estar vestida de uma forma discreta dá-me a tranquilidade e, até, a privacidade que dantes, quando vestia algo potencialmente sexy, não sentia. Talvez também por isso estar parcialmente despida em público não me faça sentir bem, antes pelo contrário. Podem chamar-lhe traumas que talvez sejam mesmo, mas a forma que arranjei para me sentir menos exposta e, consequentemente, melhor, foi vestir-me de maneira confortável e discreta.
Pode parecer estranho, mas, na verdade, sinto que ganhei muito nas relações pessoais a partir do momento em que deixei de usar um decote ou uma mini-saia que distraia os meus interlocutores. Hoje, sinto que falam mais comigo do que com as minhas mamas e isso é mais agradável.
Atenção: Não tenho absolutamente nada contra quem usa decotes e mini-saias ou até quem prefira andar nu. Sou pela liberdade plena quanto a isso e defendo que as pessoas devem andar como muito bem entenderem sem que as incomodem ou critiquem.
Mas eu optei por me sentir bem e, para me sentir bem, preciso de ser eu a controlar a minha privacidade, a qual sofria constantes atendados quando me espreitavam para dentro do decote ou me diziam coisas que passavam a barreira da intimidade. A minha intimidade, que muito preservo, só é partilhada com quem quero e quando quero, por isso não estou para me andar sempre chatear nem a ter que mandar à merda pessoas que julgam que um decote ou uma mini-saia lhes dá o direito de desrespeitarem os outros.
Há ainda outras possíveis causas para me apetecer andar vestida na praia, mas hoje não vos vou maçar com isso.
Adiante.
Naquele dia na praia, olhei em volta e percebi que era a única pessoa vestida. Toda a gente estava em fatos-de-banho.
Imaginei-me de burquíni... Se eu, em vez de estar com uma saia pelo joelho e uma camisola de mangas cavas, estivesse de burquini, tenho a certeza que me olhariam de esguelha e que reprovariam a minha vestimenta, mas como estava com roupas "normais", não sofri desses olhares maldosos. Talvez alguns críticos, mas maldosos não.
No entanto, continuei a ser um alien naquele planeta de corpos desnudados...
O meu filho e o pai andaram a jogar e a tomar banhos no mar e eu ali a ler na minha calma e introspecção. Sim, na praia costuma dar-me para a introspecção.
Entre cada virar de página e sessão introspectiva, fui observando o cenário que me rodeava e fui percebendo que, apesar de a praia ser um local supostamente mais livre (as pessoas podem andar com menos roupa do que nas ruas), não o é realmente. Há ali uma quantidade de códigos e regras como há em qualquer outro lugar público. (Perceber isto matou metade do encantamento que a praia me incutia). Não podemos estar ali mais à vontade do que em qualquer outro sítio. Temos que nos vestir de acordo com o que está estipulado, fazer o que está estipulado, agir de acordo com as regras.
Ir à praia para relaxar é uma mentira, a não ser que consigamos abstrair-nos totalmente do que nos rodeia ou seja uma praia deserta ou privada cujas regras sejamos nós a definir. Melhor, cujas regras não existam ou sejam apenas residuais.
E voltei a pensar nas pessoas que usam burquíni...
Numa praia pública em Portugal não terão sossego mesmo que não lhes digam nada. Terão sempre os olhares maldosos, os cochichos e as críticas, só porque não se encaixam nos parâmetros estabelecidos.
Ir à praia é como ir a um evento social. Há a preocupação com o que se leva vestido, como o que se faz, com o que se diz. Gozar a praia de uma maneira diferente da maioria não é socialmente aceitável e, por isso, se podem ver actos discriminatórios como na rua ou no supermercado.
No fundo, o problema da praia não está na praia, mas nas pessoas que para lá levam a mesma mente vestidinha da cabeça aos pés e fechada a sete chaves, apesar de os seus corpos mostrarem mais pele e parecerem mais abertos ao mundo.
De facto, roupa não tem importância nenhuma, pois não é ela que nos veste ou despe de preconceitos e intolerância. Estes dois bichos instalam-se tanto em corpos vestidos, quanto despidos. A única solução é arrancá-los da pele, nem que seja com um esfregão de arame.
Entre cada virar de página e sessão introspectiva, fui observando o cenário que me rodeava e fui percebendo que, apesar de a praia ser um local supostamente mais livre (as pessoas podem andar com menos roupa do que nas ruas), não o é realmente. Há ali uma quantidade de códigos e regras como há em qualquer outro lugar público. (Perceber isto matou metade do encantamento que a praia me incutia). Não podemos estar ali mais à vontade do que em qualquer outro sítio. Temos que nos vestir de acordo com o que está estipulado, fazer o que está estipulado, agir de acordo com as regras.
Ir à praia para relaxar é uma mentira, a não ser que consigamos abstrair-nos totalmente do que nos rodeia ou seja uma praia deserta ou privada cujas regras sejamos nós a definir. Melhor, cujas regras não existam ou sejam apenas residuais.
E voltei a pensar nas pessoas que usam burquíni...
Numa praia pública em Portugal não terão sossego mesmo que não lhes digam nada. Terão sempre os olhares maldosos, os cochichos e as críticas, só porque não se encaixam nos parâmetros estabelecidos.
Ir à praia é como ir a um evento social. Há a preocupação com o que se leva vestido, como o que se faz, com o que se diz. Gozar a praia de uma maneira diferente da maioria não é socialmente aceitável e, por isso, se podem ver actos discriminatórios como na rua ou no supermercado.
No fundo, o problema da praia não está na praia, mas nas pessoas que para lá levam a mesma mente vestidinha da cabeça aos pés e fechada a sete chaves, apesar de os seus corpos mostrarem mais pele e parecerem mais abertos ao mundo.
De facto, roupa não tem importância nenhuma, pois não é ela que nos veste ou despe de preconceitos e intolerância. Estes dois bichos instalam-se tanto em corpos vestidos, quanto despidos. A única solução é arrancá-los da pele, nem que seja com um esfregão de arame.
As pessoas gostam muito mais de julgar do que aproveitar as suas próprias vidas... Eu cá não perco tempo a preocupar-me com o que pensam do que eu estou a vestir ou fazer. F*ck them :)
ResponderEliminarÉ isso, Cynthia! Mas às vezes não é fácil abstrairmo-nos do que nos rodeia.
Eliminar