Os casos de adolescentes que se agridem têm inundado a comunicação social. Ora os irmãos, filhos de um embaixador, que espancaram um rapaz de 15 anos; ora o rapaz de 16 anos que espancou outro de 14 até à morte.
Para a comunicação social, estes casos são "doces". Geram polémica, opiniões controversas, ódios e amores e duram, duram, gerando imensos artigos com informações e contra-informações.
O primeiro caso, conhecido por "caso dos irmãos iraquianos" pode ter "origens xenófobas", diz-se por aí. A verdade é que se não teve "origens xenófobas" pode vir a ter "fins xenófobos". O facto de se sublinhar que os gémeos são iraquianos na divulgação das notícias sobre este caso está a abrir caminho para potenciar ódios de cariz xenófobo. A opinião pública revolta-se contra os agressores, que não tendo desculpa pelas agressões, seja qual for a origem destas, relacionam-nos com a sua nacionalidade. "Ah e tal, são iraquianos!"; "Essa gente, desses países estranhos como o Iraque...".
Se não havia a tal xenofobia à partida, haverá, com certeza, na análise popular da situação.
Parece-me que estampar-se a nacionalidade nos agressores não será a forma mais correcta de se falar sobre o caso. Claro que é uma informação importante, ainda mais por se tratarem de filhos de um embaixador e da questão da imunidade diplomática, mas não é a principal e, por isso, não devia estar no título de praticamente todas as notícias sobre este assunto e, muito menos, este passar a ser conhecido como o "caso dos irmãos iraquianos". Parece-me impróprio e potenciador de racismos especialmente perigosos, devido aos visados serem miúdos.
Não tenho conhecimento do caso a fundo, como ninguém deve ter neste momento, excepto agressores e agredido, por isso não sei se estas posições serão assim tão estáticas quanto aparentam: se os agressores não terão sido também agredidos e se o agredido não terá sido também agressor. Não sei. E não quero com isto desculpar os irmãos pela brutal agressão ao miúdo de 15 anos! Não têm desculpa! Mas pode haver uma explicação melhor do que realmente aconteceu e, penso, que é essa que se deve procurar, não só para se poder perceber este caso, como também para se tentar descortinar o que se passa com esta adolescência que se agride tão violentamente.
E aqui surge o segundo caso, o do miúdo de 16 anos que espancou o de 14 até à morte com uma soqueira.
Parece-me estranho eu não ter conseguido encontrar uma única referência à nacionalidade do agressor neste segundo caso... Será o rapaz "anacionalizado" (sei que a palavra não existe, mas gosto dela, ok?)? Ou será português e, por isso, "isso não interessa nada", porque somos sempre os "máiores"?
Pois... lá está mais uma vez: Não sei! Apenas coloco questões.
Na verdade, o que realmente me importa é debruçar-me sobre a violência entre jovens e, como mãe de um pré-adolescente, importa-me preveni-la, porque não estamos sempre com os nossos filhos para os proteger e, mesmo se estivéssemos, não os poderíamos estar sempre a proteger, por mais que nos apetecesse.
Como dizia José Saramago "filho é um ser que nos emprestam para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos", e eu acrescento, "amor tão grande que nos transcende a todos os níveis".
Tenho acreditado, nesta travessia de 12 anos de maternidade, e até hoje ainda nada veio contrariar a teoria (o que não quer dizer que isso não venha a acontecer no futuro, que isto da maternidade /paternidade é coisa volúvel) que é por dentro que se estruturam as pessoas.
Arranjar ferramentas de auto-protecção e prevenção de situações deste tipo, talvez seja a melhor forma de ajudarmos os nossos filhos a "construírem-se" e a perceberem o que significa "voar sozinho pelo mundo".
Princípios como o da não-agressão gratuita; o do respeito pelos outros; o da não-discriminação; o do não-julgamento precipitado, talvez sejam de levar em conta quando tentamos esta "estruturação por dentro" das pessoínha que geramos. E digo "talvez" de propósito, por causa da tal volubilidade da maternidade /paternidade...
Indicações preventivas como não falar com estranhos; estar acompanhado em situações de risco potencial; informar os familiares onde se vai; etc., etc., também me parecem importantes. Sem alarmismos, dar um plano geral de como o mundo funciona pode preparar os miúdos para situações em que precisem de se defender e, também, para situações em que precisem de evitar agredir os outros. Porque os nossos filhos não são imunes ao erro, às acções mal pensadas, aos maus sentimentos. Os nossos filhos não são perfeitos, assim como não são os dos outros.
Nunca fui apologista da vigilância às escondidas dos filhos. Tal como dos namorados, amigos, etc... Vasculhar bolsos, ler mensagens de telemóvel, ou invadir a privacidade dos outros de qualquer outra forma não é coisa que me agrade ou que use com os meus próximos.
Acredito em relações baseadas na confiança mútua. Acho que só assim podem ser verdadeiras relações.
Se não confiamos em quem amamos, perdemo-nos em dúvidas, incertezas, desconfianças. Perdemo-nos e acabamos por perder quem amamos.
Prefiro correr o risco de ser enganada do que viver assombrada com uma desconfiança permanente. Prefiro que me desiludam ao enganarem-me do que me desiludir comigo própria e viver em ansiedade constante. Por isso, se tenho dúvidas, pergunto directamente, assim como digo directamente o que me perturba.
E na relação com o meu filho, faço questão que ele saiba que estou atenta, não para o controlar (que não acredito nisso do controle) mas para o ajudar a aprender a viver solto. Porque, acima de tudo, o quero soltar para o mundo e para ele próprio; porque, acima de tudo, quero que ele experimente a liberdade, de preferência, consciente do que é isso de se ser livre.
É claro que a volubilidade da maternidade pode dizer-me, daqui a uns anos, que isto está tudo errado, mas enquanto não diz, vou acreditando que o caminho é por aqui e seguindo em frente.
Para a comunicação social, estes casos são "doces". Geram polémica, opiniões controversas, ódios e amores e duram, duram, gerando imensos artigos com informações e contra-informações.
O primeiro caso, conhecido por "caso dos irmãos iraquianos" pode ter "origens xenófobas", diz-se por aí. A verdade é que se não teve "origens xenófobas" pode vir a ter "fins xenófobos". O facto de se sublinhar que os gémeos são iraquianos na divulgação das notícias sobre este caso está a abrir caminho para potenciar ódios de cariz xenófobo. A opinião pública revolta-se contra os agressores, que não tendo desculpa pelas agressões, seja qual for a origem destas, relacionam-nos com a sua nacionalidade. "Ah e tal, são iraquianos!"; "Essa gente, desses países estranhos como o Iraque...".
Se não havia a tal xenofobia à partida, haverá, com certeza, na análise popular da situação.
Parece-me que estampar-se a nacionalidade nos agressores não será a forma mais correcta de se falar sobre o caso. Claro que é uma informação importante, ainda mais por se tratarem de filhos de um embaixador e da questão da imunidade diplomática, mas não é a principal e, por isso, não devia estar no título de praticamente todas as notícias sobre este assunto e, muito menos, este passar a ser conhecido como o "caso dos irmãos iraquianos". Parece-me impróprio e potenciador de racismos especialmente perigosos, devido aos visados serem miúdos.
Não tenho conhecimento do caso a fundo, como ninguém deve ter neste momento, excepto agressores e agredido, por isso não sei se estas posições serão assim tão estáticas quanto aparentam: se os agressores não terão sido também agredidos e se o agredido não terá sido também agressor. Não sei. E não quero com isto desculpar os irmãos pela brutal agressão ao miúdo de 15 anos! Não têm desculpa! Mas pode haver uma explicação melhor do que realmente aconteceu e, penso, que é essa que se deve procurar, não só para se poder perceber este caso, como também para se tentar descortinar o que se passa com esta adolescência que se agride tão violentamente.
E aqui surge o segundo caso, o do miúdo de 16 anos que espancou o de 14 até à morte com uma soqueira.
Parece-me estranho eu não ter conseguido encontrar uma única referência à nacionalidade do agressor neste segundo caso... Será o rapaz "anacionalizado" (sei que a palavra não existe, mas gosto dela, ok?)? Ou será português e, por isso, "isso não interessa nada", porque somos sempre os "máiores"?
Pois... lá está mais uma vez: Não sei! Apenas coloco questões.
Na verdade, o que realmente me importa é debruçar-me sobre a violência entre jovens e, como mãe de um pré-adolescente, importa-me preveni-la, porque não estamos sempre com os nossos filhos para os proteger e, mesmo se estivéssemos, não os poderíamos estar sempre a proteger, por mais que nos apetecesse.
Como dizia José Saramago "filho é um ser que nos emprestam para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos", e eu acrescento, "amor tão grande que nos transcende a todos os níveis".
Tenho acreditado, nesta travessia de 12 anos de maternidade, e até hoje ainda nada veio contrariar a teoria (o que não quer dizer que isso não venha a acontecer no futuro, que isto da maternidade /paternidade é coisa volúvel) que é por dentro que se estruturam as pessoas.
Arranjar ferramentas de auto-protecção e prevenção de situações deste tipo, talvez seja a melhor forma de ajudarmos os nossos filhos a "construírem-se" e a perceberem o que significa "voar sozinho pelo mundo".
Princípios como o da não-agressão gratuita; o do respeito pelos outros; o da não-discriminação; o do não-julgamento precipitado, talvez sejam de levar em conta quando tentamos esta "estruturação por dentro" das pessoínha que geramos. E digo "talvez" de propósito, por causa da tal volubilidade da maternidade /paternidade...
Indicações preventivas como não falar com estranhos; estar acompanhado em situações de risco potencial; informar os familiares onde se vai; etc., etc., também me parecem importantes. Sem alarmismos, dar um plano geral de como o mundo funciona pode preparar os miúdos para situações em que precisem de se defender e, também, para situações em que precisem de evitar agredir os outros. Porque os nossos filhos não são imunes ao erro, às acções mal pensadas, aos maus sentimentos. Os nossos filhos não são perfeitos, assim como não são os dos outros.
Nunca fui apologista da vigilância às escondidas dos filhos. Tal como dos namorados, amigos, etc... Vasculhar bolsos, ler mensagens de telemóvel, ou invadir a privacidade dos outros de qualquer outra forma não é coisa que me agrade ou que use com os meus próximos.
Acredito em relações baseadas na confiança mútua. Acho que só assim podem ser verdadeiras relações.
Se não confiamos em quem amamos, perdemo-nos em dúvidas, incertezas, desconfianças. Perdemo-nos e acabamos por perder quem amamos.
Prefiro correr o risco de ser enganada do que viver assombrada com uma desconfiança permanente. Prefiro que me desiludam ao enganarem-me do que me desiludir comigo própria e viver em ansiedade constante. Por isso, se tenho dúvidas, pergunto directamente, assim como digo directamente o que me perturba.
E na relação com o meu filho, faço questão que ele saiba que estou atenta, não para o controlar (que não acredito nisso do controle) mas para o ajudar a aprender a viver solto. Porque, acima de tudo, o quero soltar para o mundo e para ele próprio; porque, acima de tudo, quero que ele experimente a liberdade, de preferência, consciente do que é isso de se ser livre.
É claro que a volubilidade da maternidade pode dizer-me, daqui a uns anos, que isto está tudo errado, mas enquanto não diz, vou acreditando que o caminho é por aqui e seguindo em frente.
Não estás errada e gosto como te expressas, claramente, sobre a maternidade e os perigos latentes e os mais próximos da adolescência. Ser mãe não é só tramado, é uma aprendizagem diária dura. :)
ResponderEliminarÉ quase uma escola... Nunca se sabe tudo. Temos sempre um mundo para aprender. Arre!
EliminarNão posso estar mais de acordo consigo. Tenho um piolhito de 10 anos que até hoje não me tem dado problemas, mas sou incapaz de 'andar a dormir na forma'. Fui sempre falando com toda a gente da escola para saber como se comportava na minha ausência, porque nós bem sabemos que quando estão em grupo, por vezes perdem a noção do perigo. Desde a professora, passando pelos auxiliares, as informações foram sempre boas, mas um dia podem não ser e nesse caso teremos de intervir. O filho é nosso, os maiores responsáveis somos nós, eu e o pai ;)
ResponderEliminarLina Soares
http://trintaporumalinhanoticias.blogspot.pt/
Somos sempre, para o bem e para o mal. ;)
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