Às vezes, acho-me um bocado ingénua. Pensar as notas como o resultado do empenho, esforço e/ou sabedoria dos alunos relativamente a determinada matéria é uma das ingenuidades que venho alimentando. Penso que, se não representam o que os alunos sabem ou o esforço que fazem para saber as matérias, não fazem sentido e não servem para mais nada. Ingenuidade a minha, pois as notas encobrem todo um universo paralelo!
Ultimamente, em conversa com alguns pais e avós de colegas do J. muito bons alunos, tenho constatado que, afinal, as boas notas são mais o resultado do trabalho dos familiares, que funcionam como uma equipa altamente organizada para os alunos em causa obterem bons resultados, do que do mérito individual dos miúdos. Na verdade, estes familiares estão tão preocupados com o brilhantismo das notas das suas crianças que se organizam de forma a funcionarem como uma linha de montagem de excelentes alunos. Empenho familiar, este que devia estar a ser aproveitado pelo ministério da educação para demonstrar o quão eficiente é o sistema de ensino em Portugal. (Desta cratinice não se lembrou o Nuno, hã?!).
Para juntar à ingenuidade de não perceber que "por trás de um grande aluno, está todo um aparelho familiar", aparece a ingenuidade de não partilhar a crença de que "um bom aluno é o reflexo das suas notas". Tenho pena, mas infelizmente não partilho desta crença. Ser-me-ia tão mais fácil e favorável acreditar nisto, já que o meu filho também tira boas notas e, assim, poderia discutir com os outros pais quem tinha o filho mais brilhante e ter tema de conversa para horas de ilações escolares. Infelizmente, sou ingénua demais para isso e as nossas conversas acabam por durar pouco tempo!
Aqui que ninguém nos ouve, para ser sincera (mais um dos meus grandes defeitos) não me interessam nada as notas dos putos, quando lhes pergunto pela escola só o faço para meter conversa. Uso este tema como se fosse o da meteorologia, pergunto "a escola está a correr bem?" como poderia perguntar "está um lindo dia hoje, não está?". Após o chavão já nem oiço a resposta, só quero mesmo quebrar o silêncio que, por vezes, faz mais ruído do que estas conversas da treta a que nem eu nem os putos ligamos a mínima. Mas estes pais ligam e falam das notas dos filhos como se o assunto fosse uma questão de vida ou morte, desenvolvem o tema de forma a conduzirem a conversa até qualquer coisa como "o meu filho teve 100% a Português!". E aí o regozijo é total. Vemo-los crescerem uns centímetros perante os 100% e se, ainda por cima, os nossos filhos só tiveram 98% à mesma disciplina, crescem mais um pouco, como se aqueles 2% equivalessem ao nível de superioridade das suas crias perante as nossas. Ingenuidade a minha que não percebo que a minha cria é 2, 10 ou 20% inferior à deles!
Mas, infelizmente e para acrescentar uns pontos à minha ingenuidade, a paranóia das notas dos putos não é exclusiva dos pais com filhos excelentes alunos, ela atinge também os pais de filhos maus alunos e os pais de filhos mais ou menos bons alunos. Na verdade, parece-me que a paranóia com as notas é um mal geral e que até há pais que medem o amor aos filhos em percentagens e escalas que vão do "mau" ao "muito bom".
Felizmente, sou suficientemente ingénua para o amor que sinto pelo meu filho não ter escala que o meça. Assim, não preciso de andar sempre a fazer contas. Ufa!
Dizia-me a mãe dum aluno, minha colega de profissão mas na área de MAT, no sábado: "O L. já tirou alguns 100%s a MAT, mas se aproveitasse sempre o tempo extra (a meia hora de tolerância), conseguiria tirar melhores notas e não falhava em pequenas coisas".... Não sendo ipsis verbis, era esta a ideia.
ResponderEliminarEu ri-me alto e bom som na cara dela e perguntei-lhe se o L. tinha que tirar sempre 100%. Ao que ela respondeu que não, mas seria óptimo se acontecesse. Nesta situação em concreto, aquela mãe, professora no ensino público, é doentiamente obcecada pelos resultados escolares do filho que frequenta uma escola privada. A sério, nem parece que ela não conhece outra realidade totalmente diferente...
Pseudo,
EliminarO que mais me faz confusão nessa história é ela querer que o filho tenha sempre 100%. Ter sempre 100% não é saudável. Alguma coisa faltará ou estará mal num miúdo que não tem notas abaixo dos 100%.
Bjs