O J. descrevia-me o cabelo de um miúdo lá da escola nova:
- Era assim como as cabeleiras dos palhaços, sabes? Mas só para cima - com as mãos desenhava o cabelo do miúdo no ar em volta da própria cabeça - E ele rapou-o assim nos lados - passou os dedos acima das orelhas, da frente para trás, como se traçasse dois riscos nos lados da cabeça.
- Estou mais ou menos a ver. O rapaz era preto?
- Ó mãe, não perguntes isso assim. Para mim isso é racismo! - ofendeu-se.
- Eu não estou a dizer "preto" num tom depreciativo. Sabes perfeitamente que não sou racista. Mas estamos a falar do cabelo de um rapaz e é importante para eu o imaginar melhor saber se o rapaz é preto ou não. Se é uma carapinha ou não faz toda a diferença. Além disso eu falo em "pretos" como falo em "brancos", quando a cor da pele é importante naquilo que estou a dizer. Não estou a fazer nenhum juízo de valor, nem considero as pessoas melhores ou piores consoante a sua cor.
- O que é uma carapinha?
- É um cabelo como os dos pretos, muito encaracoladinho, sabes?
- Sim, sei, mas não gosto que digas "preto". Soa-me sempre a racismo!
- Sabes bem que não é. Como queres que diga? Negro, castanho, escuro, de cor?
- Castanho. Eles são mesmo é castanhos! O do cabelo até nem é muito castanho, é um bocadinho mais clarinho, assim como o LeBron James, sabes?
- Sei, é mulato, certo? Mas o LeBron James não é muito clarinho... Ok, passo a dizer "castanho". Mas dizer "preto" não é obrigatoriamente depreciativo. Para mim, é como dizer que "aquele rapaz é loiro, moreno, tem olhos azuis, verdes ou castanhos". São características das pessoas. Nada mais.
- Mas diz "castanho", ok?
- Ok, combinado!
Bem, pelo menos tem o conceito de racismo bem definido! ;)
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