Já o J. estava na cama, digo-lhe: - Olha, vou deixar aqui na tua mesa, ao lado do saco do treino, um saco para a avó levar amanhã. Por isso, não te espantes quando o vires. - Um saco? O que é que tem? - É a minha cabeleira para a avó levar. - Para que é que ela quer a tua cabeleira? - Para dar à I. - A I. também tem cancro? E quer a tua cabeleira? - Tem. A cabeleira é para ela ver se quer e se gosta. - Porra, mãe, tanta gente tem cancro! - Pois é, é mesmo muita gente. - E é sempre no cabelo... - Não é no cabelo, é noutros sítios, mas muitas pessoas ficam sem cabelo. - Porque é que o cancro faz cair o cabelo? - Não é o cancro que faz cair o cabelo, é um medicamento para matar o cancro. - Ah, então se a pessoa cortar o cabelo todo, deixa de ter cancro?! - Não, J., a pessoa não fica boa por ficar sem cabelo. A pessoa fica boa porque o medicamento que faz cair o cabelo, mata o cancro. - E se a pessoa não tomar esse medicamento? - Morre. Pode morrer...
Aqui, fala-se de filhos e de tudo o resto...