Avançar para o conteúdo principal

Amor-Perfeito

Se antes de ser mãe sonhei em vir a ser uma súper mãe ou situar-me o mais próximo possível da perfeição. Actualmente, tenho vindo a  mudar a minha visão relativamente ao perfeccionismo neste papel.

Hoje, acho importante sermos imperfeitas. Mostrar as nossas fragilidades, erros e autenticidade é essencial nas mães (e nos pais). 
Não me custa admitir que errei, nem dizer que não sei, afinal não sou nenhuma Deusa, sou humana, e penso que é crucial o meu filho ver-me como tal.
Sei que ele me toma como barómetro da gravidade das situações. Sei que ele vê em mim se tem ou não que se preocupar com determinados acontecimentos e, por isso, pode tornar-se necessário ocultar-lhe algumas emoções menos positivas que sinta, mas apenas para o proteger de preocupações desajustadas à sua idade.
Por vezes, consigo fazer este exercício... Outras vezes, ele decifra na minha expressão facial tudo o que me vai na alma. 

Num dia destes, disse-me:
- Mãe, porque estás com essa cara?
- Só tenho esta!
- Não, tens a a rir, a zangada e a assim!
E era verdade, a minha cara assim, era uma cara de preocupação, que ele já sabe tão bem distinguir de todas as outras minhas caras. Sou expressiva mesmo contra a minha vontade e ocultar emoções não é o meu forte, mas se algumas vezes sinto necessidade em evitar preocupá-lo com aquilo que me perturba, outras acho que ele deve estar consciente que existem coisas que nos fazem pensar, duvidar e até errar.

Não sei tudo, nem faço sempre o que é mais correcto, falho várias vezes e acho importante que ele tenha essa percepção para que não tenha uma imagem de mim como alguém infalível ou divino. Imagem esta, que ao mínimo descuido, se desmoronaria facilmente e me desacreditaria completamente perante os seus olhos, provocando-lhe uma desilusão profunda e de difícil recuperação. Tal como não acredito que mascarar-se demasiado a realidade aos olhos das crianças, com fantasias idiotas, contribua com algo de positivo para o seu crescimento e evolução, também não acredito que fomentar-se uma imagem de pais omnipotentes lhes possa proporcionar um crescimento mais saudável.
Penso que o meio-termo é o objectivo a alcançar. Talvez não seja sempre possível, talvez até seja o mais difícil de conseguir, mas acho que se os nossos filhos perceberem precocemente que somos humanos, que também falhamos, mas que as nossas intenções são sempre as melhores no que lhes diz respeito, poderão aceitar-nos com maior facilidade, sem ressentimentos, sem mentiras, com amor-perfeito, que afinal é repleto de imperfeições...

Comentários

  1. Nossa as tuas palavras poderiam ser as minhas.
    Identifico me tanto com o quer dizes e escreves.
    É tão irracional o nosso papel de mães, não somos nenhumas Heroinas mas sim humanas, e com defeitos e qualidades, com paciencia ou sem ela, tenho momentos em que a paciencia esta esgotada e dou por mim a ter atitudes que nem parece ser eu! e quando visualizo o que fiz os remorsos e a dor vem ao de cima.

    E eles percebem bem o quanto estamos angustiadas.

    Bjstos

    ResponderEliminar
  2. Partilho da mesma posição... acho que mostrarmos que somos humanas, imperfeitas e que há dias que a tristeza vence um pouco também é preciso para eles, para que percebam que a vida não é sempre cor-de-rosa, que há momentos difíceis e que a vida não é um poço de alegrias.
    De certa forma, por mais que queiramos proteger e escudar das coisas menos boas, é necessário mostrar-lhes a vida em todas as vertentes, para que depois se saibam defender melhor e lidar melhor com as vicissitudes próprias da vida!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E eu acho que é esse mesmo o nosso papel, o de lhes mostrar a vida.
      Bjs

      Eliminar
  3. Ainda não sou mãe, não sei se algum dia serei, não porque não queira, mas porque acho que é preciso ter condições mínimas para criar uma criança e ando a ver tudo muito negro (estou numa fase pessimista). Com isto já me desviei do que queria dizer! Tenho medo se algum dia for mãe, ser uma má mãe porque não tenho jeito com crianças, acho que preciso de um curso a explicar-me TUDO!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu também não tenho jeito nenhum para crianças, mas ser mãe é diferente.
      Se nos esforçarmos por fazermos o melhor, nunca seremos más mães.
      Pelo menos, é nisso que eu acredito...
      Bjs

      Eliminar

Enviar um comentário

Vá lá, digam qualquer coisinha...
...por mais tramada que seja...

Mensagens populares deste blogue

Vejam só o que encontrei!

Resumindo :  Licenciatura em marketing (um profissional certificado); Gosto pela área comercial (amor cego que se venda barato);  De preferência, recém-licenciado (cabeça fresquinha e sem manhas); Com vontade de aprender (que aceite, feliz, todas as "óptimas" condições de trabalho que lhe oferecem, porque os ensinamentos não têm preço); Disponibilidade imediata (já a sair de casa e a arregaçar as mangas);  Carta de condução (vai de carro e não seguro, como a Leonor descalça do Camões);  Oito horas de trabalho por dia e não por noite (muito tempo luminoso para aprender, sem necessidade de acender velas). Tudo isto, a troco de: Um contrato a termo incerto (um trabalho p'rá vida); 550€ / mês de salário negociável (uma fortuna que pode ser negociável, caso o candidato seja um ingrato); Refeições incluídas (é melhor comer bem durante as horas de serviço, porque vai passar muita fominha a partir daquela hora do dia em que tiver de

O engano

O meu homem, enquanto estende a roupa (sim, cá em casa a roupa é cena dele. Somos estranhos, eu sei!), ouve música. Aliás, ele ouve sempre música, mas hoje, enquanto estava a ouvir música e a estender a roupa e eu a arrumar a loiça do almoço (sim, apesar do moço tratar da roupa, eu também faço umas coisitas cá por casa. Sim, eu sei, parece que somos mesmo estranhíssimos!), pôs os Pink Floyd a tocar. Ao som dos Pink Floyd, comecei a pensar que hoje há pouca cultura que faça as pessoas pensarem como por exemplo os Pink Ployd faziam; que conteste os poderes; que ponha em causa as ditas verdades universais; que cause indignação e contestação. Vivemos na sociedade do engano. Julgamos que temos liberdade, quando somos nós mesmos que restringimos a liberdade, calando-nos. Já não defendemos causas, mandamos umas bocas e ficamo-nos por aí. Os poderes estão instituídos e aceitamo-los, pura e simplesmente, sem um ai realmente sentido. Encolhemos os ombros e distraímo-nos com outras coisas par

Apneia

 Sempre esta coisa da escrita... De há uns anos para cá tornou-se uma necessidade como respirar. Tenho estado em apneia, eu sei. Não só, mas também, porque veio a depressão. Veio, assim, de mansinho, como que para não se fazer notar, instalando-se cá dentro (e cá fora). Começou por me devorar as entranhas qual parasita. Minou-me o corpo e o cérebro, sorvendo-me os neurónios e comendo-me as ideias, a criatividade e a imaginação. Invadiu-me a mente e instalou pensamentos neuróticos, medos, temores, terrores até. Fiquei simultaneamente cheia e vazia. E a vontade de me evaporar preencheu-me por completo, não deixando espaço para mais nada. Não escrevia há meses. Sinto-lhe a falta todos os dias. Mas havia (há) um medo tão grande de começar e só sair merda. E, no entanto, cá estou eu a escrever de novo. Mesmo que merda, a caneta deslizou sobre o papel e, agora, os dedos saltam de tecla em tecla como se daqui nunca tivessem saído. O olhar segue os gatafunhos, o pensamento destrinça frases e e

A Língua do Michael Jordan

O ídolo (imagem retirada da Internet) Um dia destes, enquanto assistia a um treino do meu filho, reparo que ele está sempre de língua de fora... Ele não é daqueles miúdos que põem a língua de fora quando escrevem ou quando fazem qualquer coisa que lhes exija um pouco mais de concentração, por isso estranhei! No intervalo que o treinador lhes dá para irem beber água, ele chega-se ao pé de mim e diz: -Viste, mãe, estive de língua de fora como o Michael Jordan? (Para quem não conhece, o Michael Jordan, o mocinho aqui ao lado, foi um dos melhores jogadores de basquetebol do mundo e uma das suas características era jogar com a língua de fora.) O meu filho estava todo orgulhoso a imitar o Michael Jordan, sentia-se o melhor jogador do mundo à custa da sua linguinha ao vento, mas eu (estúpida!) estraguei a sua alegria, com esta minha triste saída: -Pois, mas se não pões a língua para dentro ainda a mordes se te derem um encontrão, além de pareceres um tontinho... Arrependi-me da parte do