Lembro-me de, aos 15 anos, ter amigos com pais com idades entre os 50/60 anos. Olhava para eles e pensava "fogo, os pais deles são tão velhos".
O meu pai tinha 36 anos quando eu tinha 15 e os dos meus amigos tinham idades próximas da dele agora. O meu pai descobriu esta coisa da parentalidade aos 21. Quando fiz 21, ele só tinha 41, quase 42.
Hoje, faz 62 anos e sou eu que tenho 41. A diferença de idades continua a mesma, mas sinto-me mais próxima dele. Mais próxima em idade e mais próxima fisicamente.
Somos diferentes e ao mesmo tempo iguais. Discutimos que nos fartamos, porque adoramos uma boa discussão. Um diz preto e o outro diz branco. Raramente, chegamos ao cinzento, porque somos igualmente casmurros.
O meu pai esteve longe muito tempo. Tempo demais. Até nas razões do que nos distanciou discordamos. Porém, concordamos que devíamos ter estado sempre mais perto.
Em pequena, era incapaz de lhe perdoar a distância. Aceitava-a simplesmente, mas com uma mágoa maior do que eu.
Hoje, continuo a aceitar e até compreendo o que o levou a distanciar-se. Às vezes, acho que o compreendo melhor do que ele pensa e do que ele a mim. Mas sei que, no meio das nossas diferenças, também me aceita e isso acaba por me chegar.
Perdoei-lhe francamente a distância, apesar de haver momentos em que não estivemos juntos que são irrecuperáveis. Nunca mais estaremos naquelas fases da vida para acompanharmos o crescimento do outro. Sim, o crescimento, que mesmo os adultos estão permanentemente em crescimento.
Agora que estamos ambos nos "entas" sinto-o mais próximo do que alguma vez estivemos desde que se separou da minha mãe.
Apesar de discutirmos muito, também falamos e os conselhos que me dá são preciosos. Gosto de saber a sua opinião sobre coisas da minha vida. Leva-me ao lado em que eu não pensaria, porque como somos muito diferentes, aquele que nunca seria o meu ponto de vista. Por isso, ouvi-lo ajuda-me a ver aquilo que naturalmente não veria, a colocar hipóteses que não poria e isso dá-me uma percepção mais ampla das coisas e permite que tenha um leque mais abrangente de escolhas.
O meu pai tem a descontracção do pai do J. São iguais nisso. O stress parece que não os aflige. Aparentam um calma irritante para quem, como eu, entra em pânico facilmente. Mas equilibram, obrigam os stressados a reduzir a velocidade para, assim, poderem pensar. Valeu-me, muitas vezes, a calma deles para me fazer descer à terra.
Quando stresso costumo levantar voo. Abro as asas e aí vou eu, levada pela aflição para as terras distantes do martírio e da auto-comiseração.
E é esse martírio que tanto o meu pai quanto o pai do J. sabem quebrar, agarrando-me pelos tornozelos, puxando-me para baixo e chamando-me à razão.
O meu pai, com os seus recentes 62 anos, é um homem novo com uma enorme estrada pela frente que desejo, do fundo do coração, sem percalços e feliz.
O meu pai é o meu pai, assim, diferente de mim e, no entanto, igualzinho.
O meu pai tinha 36 anos quando eu tinha 15 e os dos meus amigos tinham idades próximas da dele agora. O meu pai descobriu esta coisa da parentalidade aos 21. Quando fiz 21, ele só tinha 41, quase 42.
Hoje, faz 62 anos e sou eu que tenho 41. A diferença de idades continua a mesma, mas sinto-me mais próxima dele. Mais próxima em idade e mais próxima fisicamente.
Somos diferentes e ao mesmo tempo iguais. Discutimos que nos fartamos, porque adoramos uma boa discussão. Um diz preto e o outro diz branco. Raramente, chegamos ao cinzento, porque somos igualmente casmurros.
O meu pai esteve longe muito tempo. Tempo demais. Até nas razões do que nos distanciou discordamos. Porém, concordamos que devíamos ter estado sempre mais perto.
Em pequena, era incapaz de lhe perdoar a distância. Aceitava-a simplesmente, mas com uma mágoa maior do que eu.
Hoje, continuo a aceitar e até compreendo o que o levou a distanciar-se. Às vezes, acho que o compreendo melhor do que ele pensa e do que ele a mim. Mas sei que, no meio das nossas diferenças, também me aceita e isso acaba por me chegar.
Perdoei-lhe francamente a distância, apesar de haver momentos em que não estivemos juntos que são irrecuperáveis. Nunca mais estaremos naquelas fases da vida para acompanharmos o crescimento do outro. Sim, o crescimento, que mesmo os adultos estão permanentemente em crescimento.
Agora que estamos ambos nos "entas" sinto-o mais próximo do que alguma vez estivemos desde que se separou da minha mãe.
Apesar de discutirmos muito, também falamos e os conselhos que me dá são preciosos. Gosto de saber a sua opinião sobre coisas da minha vida. Leva-me ao lado em que eu não pensaria, porque como somos muito diferentes, aquele que nunca seria o meu ponto de vista. Por isso, ouvi-lo ajuda-me a ver aquilo que naturalmente não veria, a colocar hipóteses que não poria e isso dá-me uma percepção mais ampla das coisas e permite que tenha um leque mais abrangente de escolhas.
O meu pai tem a descontracção do pai do J. São iguais nisso. O stress parece que não os aflige. Aparentam um calma irritante para quem, como eu, entra em pânico facilmente. Mas equilibram, obrigam os stressados a reduzir a velocidade para, assim, poderem pensar. Valeu-me, muitas vezes, a calma deles para me fazer descer à terra.
Quando stresso costumo levantar voo. Abro as asas e aí vou eu, levada pela aflição para as terras distantes do martírio e da auto-comiseração.
E é esse martírio que tanto o meu pai quanto o pai do J. sabem quebrar, agarrando-me pelos tornozelos, puxando-me para baixo e chamando-me à razão.
O meu pai, com os seus recentes 62 anos, é um homem novo com uma enorme estrada pela frente que desejo, do fundo do coração, sem percalços e feliz.
O meu pai é o meu pai, assim, diferente de mim e, no entanto, igualzinho.
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...por mais tramada que seja...