Tenho mortos que não morrem. Ficam para sempre comigo. Vou visitá-los às memórias, como quem vai à gaveta das recordações. Quando tenho saudades, abro a janela das lembranças e visito-os dentro da minha cabeça. Os meus mortos não me são necessariamente próximos. Alguns nunca mais vi. Seguiram vidas longe e perdi-lhes o rasto até saber que morreram. Mas sabia-os lá, em qualquer sítio, e isso chegava-me. Depois morreram e começaram a fazer-me muita falta. O lugar que lhes tinha destinado dentro de mim teve de mudar repentinamente. Da lembrança suave e sossegada passei-os para um quarto de memórias cheio de vazios. Cheio de vazios... Custa-me mantê-los aqui, porque o espaço se torna demasiado grande e as recordações repletas de histórias e vida passam a ficar cheias de vazios. Há bocados que lhes faltam, porque há pessoas a menos. Tento constantemente ocupar os espaços em branco com os meus mortos, construindo segmentos das suas vidas em mim, numa tentativa vã de os ressuscitar. C
Aqui, fala-se de filhos e de tudo o resto...