Avançar para o conteúdo principal

O Tuga é Fixe!

Sim, o tuga é fixe. E bondoso. Tão bondoso que até quando tira a selfie em frente ao velho monumento, o faz com cara de anjo e dentes arreganhados. Não interessa o calhau que lhe serve de fundo, interessa apenas o sorriso repleto de bondade. Resplandecente de bondade. 
A benevolência é tal que está sempre pronto a dar o pedaço de pão ao pobre, a fazer o voluntariadozinho junto dos coitadinhos, a salvar o cão que lhe matou o filho, a levar o refugiado para casa... Coração imenso, grandioso.

Só tem um bocadito de medo de votar diferente nas urnas, não vá um estranho para o poder e lhe troque as voltas. E mude alguma coisa no país que o faça deixar de saber onde está o coitadinho, como se pode desviar do pobre, se cortaram as unhas ao cão ou quem é o refugiado. E tem medo de exigir que os governos governem e que a igualdade se torne realidade. (É que estas coisas acabadas em "ade" sempre foram tão perigosas... Assim como a liberdade que, ao fim de quarenta anos, ainda não sabe bem como gerir.)

Oh, mas está completamente disponível para receber refugiados em casa! (Até porque os cãezinhos fazem mais porcaria e precisam de espaço para correr...) O refugiado pode ficar no chão do quarto dos miúdos ou no sofá da sala e ainda lhe vai agradecer. Sim, agradecer e dizer ao amigos lá da terra dele que o tuga é fixe. Que o tuga é muito fixe. O tuga é tão fixe que até lhe serve comida quente ao jantar. E ensina-lhe umas palavrinhas em português, vá.

Mas impor-se como um homenzinho e obrigar o governo a fazer frente à Europa para evitar que estes povos abandonem as suas terras e se atirem ao mar em desespero? Eh pá, isso já não dá! Eh pá, isso já não é nada cool. Eles podem chatear-se connosco e atirarem-nos para o fundo da sala de aula com umas orelhas de burro. E isso não é fixe. As orelhas de burro não cabem nas selfies e fica feio. (Se fossem umas orelhas moucas, ou assim... Isso já lhe dava um certo charme, à lá povo rico e elegante.)
Não interessa que dêem à costa mais mortos que algas. Enquanto forem lá longe, o tuga disponibiliza-se a receber os que sobreviverem.
Só os que sobreviverem, claro, que para aturar mortos, o tuga não tem paciência!

Comentários

  1. Português não é bondoso, é preguiçoso e conformista.
    E o governo que rege o nosso país, mete nojo aos cães!
    "Temos de limpar a casa primeiro, para receber visitas!"
    Tratemos de limpar a casa primeiro!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Vá lá, digam qualquer coisinha...
...por mais tramada que seja...

Mensagens populares deste blogue

Vejam só o que encontrei!

Resumindo :  Licenciatura em marketing (um profissional certificado); Gosto pela área comercial (amor cego que se venda barato);  De preferência, recém-licenciado (cabeça fresquinha e sem manhas); Com vontade de aprender (que aceite, feliz, todas as "óptimas" condições de trabalho que lhe oferecem, porque os ensinamentos não têm preço); Disponibilidade imediata (já a sair de casa e a arregaçar as mangas);  Carta de condução (vai de carro e não seguro, como a Leonor descalça do Camões);  Oito horas de trabalho por dia e não por noite (muito tempo luminoso para aprender, sem necessidade de acender velas). Tudo isto, a troco de: Um contrato a termo incerto (um trabalho p'rá vida); 550€ / mês de salário negociável (uma fortuna que pode ser negociável, caso o candidato seja um ingrato); Refeições incluídas (é melhor comer bem durante as horas de serviço, porque vai passar muita fominha a partir daquela hora do dia em que tiver de

Apneia

 Sempre esta coisa da escrita... De há uns anos para cá tornou-se uma necessidade como respirar. Tenho estado em apneia, eu sei. Não só, mas também, porque veio a depressão. Veio, assim, de mansinho, como que para não se fazer notar, instalando-se cá dentro (e cá fora). Começou por me devorar as entranhas qual parasita. Minou-me o corpo e o cérebro, sorvendo-me os neurónios e comendo-me as ideias, a criatividade e a imaginação. Invadiu-me a mente e instalou pensamentos neuróticos, medos, temores, terrores até. Fiquei simultaneamente cheia e vazia. E a vontade de me evaporar preencheu-me por completo, não deixando espaço para mais nada. Não escrevia há meses. Sinto-lhe a falta todos os dias. Mas havia (há) um medo tão grande de começar e só sair merda. E, no entanto, cá estou eu a escrever de novo. Mesmo que merda, a caneta deslizou sobre o papel e, agora, os dedos saltam de tecla em tecla como se daqui nunca tivessem saído. O olhar segue os gatafunhos, o pensamento destrinça frases e e

Dos blogues

DAQUI Comecei isto dos blogues faz tempo. Mais precisamente em 2011. Faz tanto tempo que este menino aqui já completou cinco anos em Agosto. Há cinco anos e picos que venho para aqui arrotar as minhas postas de pescada. Primeiro, em núpcias das delícias da maternidade; depois confrontada com o fim das núpcias; hoje, com a consciência de que a maternidade se expande por tudo o que é lado da vida da gente. Nunca, mas mesmo nunca, tentei tornar este blogue num lugar cuchi-cuchi, fofinho e queridinho. Este lugar não é de todo fofinho. Não há por aqui adoçantes da vida, nem marcas a embelezar o que se passa por dentro e por fora da minha experiência enquanto mãe, ou enquanto pessoa, ou até mesmo a comandar o que escrevo. Não me deixo limitar por "politicamente correctos" ou estereótipos que atentem contra a minha liberdade na escrita. Escrevo o que me dá na real gana, quando me dá na real gana. Em tempos, cheguei a ter por aqui uma publicidade, mas nada que me prendesse

Tenho uma tatuagem no meio do peito

Ontem, no elevador, olhei ao espelho o meu peito que espreitava pelo decote em bico da camisola, e vi-a. "Tenho uma tatuagem no meio do peito", pensei. Geralmente, não a vejo. Faz parte de mim, há dez anos, aquele pontinho meio azulado. Já quase invisível aos meus olhos, pelo contrário, ontem, olhei-a com atenção, porque o tempo já me separa do dia em que ma fizeram e me deixa olhá-la sem ressentimentos. À tatuagem como à cicatriz que trago no pescoço. A cicatriz foi para tirar o gânglio que confirmou o linfoma. Lembro-me do médico me dizer "vamos fazer uma cicatriz bonitinha. Ainda é nova e vamos conseguir escondê-la na dobra do pescoço. Vai ver que quase não se vai notar". Naquela altura pouco me importava se se ia notar. Entreguei o meu corpo aos médicos como o entrego ao meu homem quando fazemos amor. "Façam o que quiserem desde que me mantenham viva", pensava. "Cortem e cosam à vontade! Que interessa a estética de um corpo se ele está a morrer

Adolescência e liberdade

Os casos de adolescentes que se agridem têm inundado a comunicação social. Ora os irmãos, filhos de um embaixador, que espancaram um rapaz de 15 anos; ora o rapaz de 16 anos que espancou outro de 14 até à morte. Para a comunicação social, estes casos são "doces". Geram polémica, opiniões controversas, ódios e amores e duram, duram, gerando imensos artigos com informações e contra-informações. O primeiro caso, conhecido por "caso dos irmãos iraquianos" pode ter "origens xenófobas", diz-se por aí. A verdade é que se não teve "origens xenófobas" pode vir a ter "fins xenófobos". O facto de se sublinhar que os gémeos são iraquianos na divulgação das notícias sobre este caso está a abrir caminho para potenciar ódios de cariz xenófobo. A opinião pública revolta-se contra os agressores, que não tendo desculpa pelas agressões, seja qual for a origem destas, relacionam-nos com a sua nacionalidade. "Ah e tal, são iraquianos!"; "E