Não se chorava ali. Cruzavam-se conversas do tempo, da escola, de negócios. De vez em quando do T.. Amigo, diziam. "Ele costumava passear-me na altura em que me separei. Pensava que estava pior do que realmente estava e achava que me distraía se me passeasse". Fez o mesmo com a minha mãe, lembrei-me. Passeou-a bastante para a distrair.
"Todos os sábados, ligava ao T. para tomarmos café. Este sábado ele já não está cá". Este sábado, o café já não vai saber ao mesmo e o mundo será mais pobre. Perdeu um amigo.
Não se chorava ali. E o assunto mudava. Falava-se do tempo, da escola, de negócios. De vez em quando do T.. "Não trataram dele como deviam no hospital. Um dia, cheguei lá e o ar-condicionado estava a quinze graus. O T. tremia."
Já não treme agora. Nem o encontramos mais na rua. Ficamos à espera de o ouvir falar sobre o estado do país. Ficamos à espera das suas palavras tão certas. E da sua resistência. Resistência ao mundo, e às doenças. Era um sobrevivente, diziam. E o mundo perdeu mais um.
"Onde estiveste, mãe?"
"No cemitério"
"Quem morreu?"
"O T."
"Porque não me contaste antes?"
Para te poupar... Talvez... Pensei que podia não ser preciso contar-te...
"Não sei como reagir à morte, mãe."
E eu não sei como explicar-te a morte, filho.
"Eu conhecia-o. Falei com ele. Não sei como reagir à morte."
E eu não sei explicar-ta.
"Devias ter-me contado mais cedo."
Pois devia. Talvez... Podia não ter sido preciso contar-te...
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Vá lá, digam qualquer coisinha...
...por mais tramada que seja...