Uma e cinquenta da tarde.
Os carrinhos de supermercado dos "sem-abrigo já meus conhecidos" são entornados num carro do lixo da CML e uma carrinha-de-caixa-aberta recolhe os carrinhos vazios.
Um único sem-abrigo presencia a cena, imóvel, com os pertences que conseguiu salvar ao lado, em silêncio. Não grita, não esbraceja, não refila. Observa a brutidade, o desprezo, a frieza, com que deitam fora o que amealharam. Observa, parado, em silêncio.
Eu passo e os pêlos dos braços arrepiam-se-me.
Acabou tudo outra vez para aquela gente. Agora, há que recomeçar o nada do nada, reconstruir a sobrevivência a partir de um novo vazio.
A imobilidade do homem é assustadora. Não luta. Não há força. Há resignação e tristeza.
E a frieza é tanta, o desprezo, a brutalidade, que sinto os olhos encherem-se de água... E o arrepio percorrer-me o corpo...
Como é que um sol tão brilhante quanto este que nos ilumina, de repente, deixou que ficasse aqui tanto frio?
Glup... fiquei de estômago feito num nó e o coração apertado...
ResponderEliminarParece também que os tempos não parecem ir para melhor...