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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2013

Conversa Pré-Sono a Cair Para Conversa Pós-Sono

Quando o J. já devia estar a dormir chamou-me: -Mãããããeeeee! - Sim, J., o que é? - Preciso que venhas aqui, senão não consigo dormir! - Então? Que se passa? - Vem aqui um bocadinho para falarmos, por favor! Fui ao quarto e sentei-me no pufe já que a conversa ia ser longa. - Diz lá, o que se passa? - Lembraste daquele jogo em que jogámos contra aquela equipa azul? - Quando? - No ano passado, lembraste? - Não! - Ganhámos por 88/2, não te lembras? - Desculpa, mas não. Sabes que nunca me lembro de quais são as equipas... Mas o que é que tem essa equipa? - Eu acho que devia ter-lhes passado a bola. - A quem? À outra equipa? - Sim. Eles devem ter ficado tristes... Estou "influenciado" com esse jogo. - Influenciado? - Sim. Acho que devia ter-lhes passado a bola... Eles se calhar ficaram a chorar... - Oh, não ficaram nada. Queres dizer que ficaste com peso na consciência, não é? Não é "influenciado". - Sim, fiquei a pensar niss

Invisível Estou, Invisível Sou

Abandonei-me à beira da estrada. O corpo moído cai trôpego. Já não sinto os braços, as pernas ou a cabeça. Tudo me desliza, se entorna, cai. Sei que ainda tenho a garrafa de vinho na mão. Oiço o barulho do saco de plástico que a envolve ao mínimo movimento dos meus dedos.  Vejo pés que passam sem abrandar. Chinelos, sandálias, sapatilhas, sapatos de salto alto e de atacadores passam por mim sem abrandar. Sei que estou aqui porque ainda me sinto o cheiro. Cheiro mal, sei que cheiro mal. Já nem me lembro do último banho ou de quando mudei de roupa. Os meus pés começam a pisar a passadeira que tantos atravessam sem me verem. Será que morri? Morri sim! Já ninguém me vê. Sei que estou invisível ou que... Foto  DAQUI ...invisível sou.

Esquecida

Às vezes, perdemo-nos, e gritamos para dentro, e ninguém nos ouve. Olhamos em volta e está tudo errado. Olhamos para dentro e está tudo errado. Fixamos os outros, fixamo-nos nos outros. Ficamos a viver os outros, esquecidos de nós, perdidos.  Às vezes, esquecemo-nos onde nos pusemos. "Onde é que eu me deixei pela última vez? No sofá? Na mesa da sala? No escritório? Na cama?". E reviramos a mala, o quarto, a alma.  Esquecemo-nos tão só.

Passo Acelerado

Acelerava o passo. Talvez para chegar a tempo ao autocarro... De mãos nos bolsos, ombros avançados e andar gingão, acelerava o passo.  As calças eram de ganga, largueironas. Da t-shirt branca saiam-lhe os braços com desenhos coloridos tatuados. Usava brincos e piercings intercalados nas orelhas. Tinha boné preto meio de banda. Nas costas, uma mochila verde com uma menina de pernas a baloiçar ao ritmo da passada. Ela aconchegava-se-lhe. E procurava o sono no embalo do passo acelerado do pai. Do sítio do costume

Resposta Ao Comentário da Pseudo no "Post" Abaixo

A Pseudo escreveu assim: " Que exagero, Mammy!  O programa só tem esse objectivo em mentes muito mesquinhas. Ele é essencialmente usado para verificar o consumo do cartão. :)". E eu respondo assim: Pseudo, Tens razão, sou um bocado exagerada e, por vezes, sinto as coisas mais fortes do que elas são na realidade. Mas no caso desta plataforma, infelizmente, não me parece que seja exagero meu. Senão vejamos:  - a plataforma GIAE tem mais funcionalidades do que a de verificação dos consumos do cartão. Através dela, além dos consumos em almoços e papelaria, respectivos carregamentos e marcações das refeições, os pais têm acesso aos sumários das aulas, faltas dos alunos e dos professores e, conseguem até saber se o seu educando chegou atrasado à aula (caso o professor lhe marque falta e depois da sua chegada, a retire).  Saber tudo isto não seria um problema se fosse contado pelo educando ao educador, ou até mesmo pelo professor aos pais. Mas quando é sabido atra

GIAE Ai Ai!

Hoje, tomei conhecimento  DESTA BELA FERRAMENTA  e fiquei atónita. Informação informatizada dos vários intervenientes nas escolas, cujo acesso é permitido a encarregados de educação, alunos, docentes e funcionários. Acessos diferentes, é certo, mas acessos que permitem, no caso dos encarregados de educação, seguirem os passos dos filhos como se eles estivessem num qualquer reality show. Comecei a imaginar a alegria que alguns pais deverão sentir em poder saber o que fazem os filhos na escola à distância de um simples clique, no sentimento de controlo que os deverá invadir e na sensação de descanso que terão por manterem os filhos "sempre debaixo de olho". E aí, caiu-me a ficha.  A impressão de que valores, como a confiança e a responsabilidade, se estão a esvair num sopro, de que a comunicação interpessoal e familiar se perde a cada dia, e de que as relações virtuais se estão subtilmente a instalar, tomou posse de mim. Senti o coração a reduzir-se ao tamanho de uma n

#22 Músicas que Entranham

Café-Esplanada

Uma e meia da tarde, café-esplanada.  Lá fora, conversa-se de trabalho, troca-se intrigas sobre colegas, come-se, apanha-se sol ou desfruta-se da sombra. Cá dentro faz-se a mesma coisa sem sol ou sombra. Ouve-se o burburinho da cozinha. Os empregados correm de um lado para o outro querendo chegar sempre a tempo. A miúda nova, sem experiência, ainda delicada, tenta não se perder no corrupio de pratos sujos e lavados, de copos, de bebidas, de menus. Um casal fala baixinho, procurando momentos de intimidade num lugar cheio gente.  Há quem esteja sozinho. Há quem seja sozinho. Alguns tentam ler o jornal ou o programa das festas de Lisboa no papel que protege as mesas da sujidade dos pratos, da comida, do corrupio.  Uns tentam o silêncio, outros ensurdecer no telemóvel.  Todos vivem a mil tentando parar. Recolhem os cérebros a uma dimensão individual, onde estão mais sozinhos os acompanhados do que os sós.

Vai-te Embora Sonho Mau!

Hoje de manhã, acordei com o J. a chorar convulsivamente. - J., que se passa? - Tive um sonho mau. - Anda cá, anda para a nossa caminha. - Estou a assoar-me. - Anda depois então. Deitou-se ao meu lado a soluçar. - Anda cá, menino. - abracei-o - Não chores mais. Foi só um sonho. Já passou. - Não, mãe. Tenho que lá voltar. - Não se pode voltar aos sonhos. - Pode pode. Se fizer força, volto ao mesmo sonho. Tenho que lá voltar para reparar o que fiz. - Mas o que é que fizeste? - Não quero dizer. - Ok, não digas. Mas já passou. E não precisas de lá voltar. Os sonhos são só a nossa imaginação. Tu não fizeste nada de mal. - Fiz fiz. Não posso fazer mal aos elementos dos meus sonhos. - disse ainda a chorar. - Mas tu não fizeste nada, só imaginaste que fizeste. Não te preocupes que ninguém ficou magoado. - apertei-o contra o meu peito e dei-lhe beijinhos - Já passou. Foi só um sonho mau. Está tudo bem agora. Acabou por voltar a adormecer.

Conversa Casual

Em conversa casual: Ela - Tens Facebook? Eu - Tenho. Quem não tem? Ela - Eu, desde que o tenho no telemóvel, sinto-me ligada ao mundo. Eu - Pois... Toda a gente tem Facebook... Até as crianças! Tens filhos? Ela - Ainda não. E tu? Eu - Tenho. Ela - Que idade tens? Eu - Trinta e oito. Ela - A sério? Pensei que eras mais nova. Eu - Pois... Também eu, mas não sou. Ela - Eu tenho trinta e quatro e ainda não deu para ter filhos. Que idade tem o teu filho? Filho ou filha? Eu - Filho. Tem nove. Ela - Ah, então tiveste-o cedo, aos vinte e nove. Eu - Nem foi assim tão cedo, se comparar com a minha mãe que me teve aos dezanove... Ela - Eu já senti vontade de ter filhos, mas quando isso aconteceu, eu e o meu namorado decidimos arranjar um cão. Sai mais barato e compensa a vontade de ter filhos. Eu - Hum... Ela - Assim, adiámos a decisão de ter filhos. Eu - Eu não tive vontade. Engravidei e pronto. Ela - Ah, foi sem querer?! Eu - Foi. Ela - Não sei quand

Piropas ou não Piropas? Ok, Vou Piropar Que a Mostarda Já Me Chegou ao Nariz!

Tenho andado a tentar não falar do piropo. Acreditem, tenho tentado mesmo muito.  Como sabem, sou meia agressiva quando toca a estas coisas  e evitar o tema tem sido a maneira que encontrei de não ser selvaticamente agressiva. Mas... (lá vem ela com o "mas"...) tenho andado incomodada com a coisa, por isso vou ter mesmo que falar neste assunto. Desculpem-me qualquer coisinha, mas vai ter mesmo de ser! Nisto... aqui vai: Ponto um - Piropo, geralmente , é sinónimo de agressão. Por mais que se contorne a questão, esta é uma verdade. (Vejam que sublinhei o "geralmente", o que quer dizer "nem sempre", ok?). Partindo deste princípio, qualquer agressão deve ser evitada, certo? Quem nunca ouviu um "lambia-te isto ou aquilo", "essas mamas são muita boas!", ou "fodia-te toda!", e nem vou falar no "eh, carapau!" ou no "és cá uma febra!"(ups, falei!) que atire a primeira pedra. (Contem também frases dest