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Dia da Consciencialização do Autismo

Hoje, na escola do J. viu-se um filme sobre um menino autista. A intenção era explicar, aos outros meninos, como agem os autistas e como eles, meninos não-autistas, deviam reagir a alguns comportamentos que ainda não percebiam muito bem.
O J. explicou-nos que têm muitas rotinas e que se alguém as perturbar costumam ficar irritados, que, às vezes, se agarram à cabeça e a abanam ou batem-lhe.
Perguntei-lhe:
- E então, ficaste a saber o que se faz nessas ocasiões?
- Não.
- Mas o filme não era para isso? Para ficarem a saber o que fazer?
- Era. Mas já não me lembro. Ele era igualzinho ao M. (menino autista que o J. conheceu há pouco tempo).
- Pois, é normal o M. fazer coisas parecidas com o menino do filme. Os meninos com autismo têm problemas de sociabilização e, por isso devemos aprender a lidar com eles de maneira a não os assustarmos.
- O que é isso, sociabilização?
- É relacionar-se com as outras pessoas. Esses meninos vivem, um bocadinho, num mundo só deles e, às vezes, não nos podemos aproximar deles de uma maneira que os assuste.
- Ah! O M., às vezes, põe-se a andar aos ziguezagues e, se encontra alguém pelo caminho, não se desvia, vai contra a pessoa e nem sequer põe as mãos à frente.
- Pois... é normal. Se calhar, andar aos ziguezagues é uma rotina dele e tem que a acabar.
- No filme, o menino tinha a rotina de apanhar o autocarro para a escola todos os dias. Mesmo se fosse domingo, ele ia para a paragem esperar pelo autocarro.
- Pois, é isso. Essa era a rotina desse menino!
- O M., quando está contente faz isto. -  J. dá estaladinhas alternadas em cada uma das faces para me demonstrar.
- Vês, já percebes que essa é a maneira de ele demonstrar que está contente?!
- Pois já. - disse orgulhoso.
- E o P.? Nunca mais brincaste com ele?
- Não.
- Porquê?
- Não sei, agora jogo mais à bola com os colegas da minha turma.
- Mas dantes brincavas tanto com ele... Vocês gostavam tanto um do outro...
- Sim e eu continuo a gostar do P., só que me tem apetecido mais jogar à bola com os meus colegas de turma.

Pois... a integração destes meninos nas escolas dos ditos "normais" nem sempre é fácil... Há ainda uma longa escalada pela frente!
No entanto, parece-me que estamos no bom caminho e, COM CERTEZA, HAVEMOS DE LÁ CHEGAR!

Comentários

  1. Tenho fé que esta nova geração, mesmo dentro das pressões que vão viver, vão arranjar espaço para integrar as diferenças, e aprender a respeitá-las e a contribuir para o melhoria da qualidade de vida de todos.

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  2. Eu concordo com a integração, mas não será que os meninos ditos "especiasi" não precisam de uma atenção redobrada? não precisam de quem puxe" mais por eles? porque os meninos ditos "normais" não têm de ter a responsabilidade de os integrar, porque tambem eles são pequenos apenas as prioridades diferentes.
    Como disse o teu J. que gosta do P. mas que quer jogar à bola, porque esse é também o seu mundo.

    Agora pergunto, ao integrar uns, não se poderá estar a desintegar outros?

    ResponderEliminar
  3. Para mim o problema que, algumas vezes, se coloca é quando a criança com "problemas" fica para trás na área curricular e entretanto vai crescendo. Nesta situação não concordo com aquilo a que chamo integração à força, a motricidade, as "exigências" corporais começam a ser muito diferentes, a interacção entre uns e outros, complica-se muito, considero-a até prejudicial para todos.
    O seu J. está a ir no bom caminho!
    Abracinho meu

    ResponderEliminar
  4. E muito importante que os nossos filhos aprendam a lidar com as diferenças.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  5. Benedita,
    Eu também tenho essa esperança!
    Bjs

    Tanita,
    Estes meninos ditos "especiais" normalmente têm apoio especial.
    Acho a tua questão muito pertinente, mas por outro lado, também acho que as crianças, de um modo geral, têm uma grande capacidade de se adaptarem e que se contactarem com outras, diferentes delas, acabam por se integrarem num todo. Tenho esperança (e isto pode ser um pouco utopia) que daqui a uns anos as diferenças se vão diluindo por habituação ao contacto com a diferenças.
    No entanto, continuo a pensar que o que dizes pode acontecer, só espero que seja só nesta fase de transição - esta em que vivemos agora, para a fase da "minha" utopia.
    Bjs

    Maria Teresa,
    Neste sistema de ensino (em que todos são tratados como ovelhas, ou seja, em que não há personalização do ensino, nem especial cuidado com as características/apetências de cada um) esse é um risco que se corre.
    Quanto ao J. estar no bom caminho, espero sinceramente que sim, mas só o tempo o dirá, não é?
    Bjs

    Rosinha Cruz,
    Concordo plenamente! Tento mostrar sempre ao J. a grande diversidade na nossa espécie, em todos os aspectos: pessoas brancas, pretas, amarelas; heterossexuais, homossexuais, bissexuais; gordas, magras, assim a assim; do norte, do centro, do sul; "normais", "especiais"; boas e más.
    Acho que a educação passa muito por aí. As crianças devem ter contacto com os mais variados cenários e conhecer o mundo para aprenderem a viver nele.
    Bjs

    ResponderEliminar

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