Avançar para o conteúdo principal

"Grândola, Vila Morena"

Nasci em 1975, um ano após o 25 de Abril. Cresci a ouvir Zeca Afonso, Sérgio Godinho, José Mário Branco, entre outros cantores, ditos, da Revolução dos Cravos. É verdade que não a vivi, nasci um ano depois de ter acontecido, mas ela está enraizada em mim através das histórias dos meus pais e da minha avó, das letras das músicas que ouvia, dos livros que fui lendo...
Foi através da arte e irreverência de gente, como as do Zeca Afonso, que fui tendo a percepção de que é a união de um povo que faz a força desse mesmo povo; da importância da luta pelos direitos (e deveres) de todos, especialmente dos direitos dos mais fracos; da ideia que o bem-estar de cada um de nós é o reflexo do bem-estar de todos nós, e não o contrário; e de alguns ideais, que alguns apelidam de Marxistas, ou comunistas, mas a que eu chamo de humanistas.

Por isso, e por a Grândola, Vila Morena ser uma música que me traz, sempre, as lágrimas aos olhos, é que, quando ouvi estas pessoas cantarem esta canção em plena Assembleia da República, interrompendo o discurso do rei da hipocrisia, que se lhe reagiu com um sorriso falso e com umas palavras completamente vazias de conteúdo, me arrepiei. 


Apercebi-me, que por mais que destruam este país, ainda há gente capaz de dar uma volta a isto e de reconstruir sobre bases muito mais consistentes e poderosas do que as em que ele está, hoje, apoiado.
E lembrei-me que o meu filho, quando era bebé, sossegava, e adormecia, a ouvir a minha mãe cantar a Grândola, Vila Morena... 
E compreendi que a musicalidade que acalma o desassossego de um bebé pode ser, precisamente a mesma, que acalma o desassossego de uma cidadã de um país à beira do precipício, desde que ela, a canção, tenha os ingredientes necessários a dar força, esperança, consolo e sossego, a ambos. Grândola, Vila Morena é, definitivamente, uma dessas musicalidades!

Comentários

  1. Pena que muitos, como os pacóvios que nos governam, não saibam dar valor, arrepiar-se e compreender o sentido desta música.
    Pena que muitos, como os pacóvios que nos governam, não saibam o que é a união, a força da palavra Povo e atirem para o ralo a palavra humanista!
    Mas a excepção confirma a regra e acredito que a vontade e a força de um povo que fez uma revolução com cravos, ainda se sobreponha à vontade de muitos, esses pacóvios que pensam que nos governam!

    ResponderEliminar
  2. A primeira vez que ouvi a Grândola chorei e ainda hoje continuo a chorar com a mesma intensidade.
    Todos os anos na Cidade onde moro alguém poe esta musica a tocar na passagem de 24 para 25 de Abril, perto da meia noite as pessoas vão se juntando e ao primeiro minuto do dia 25 todos os presentes cantam a Grandola, eu não consigo cantar começo logo a chorar e só paro quando a canção acaba, é uma musica muito forte

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Vá lá, digam qualquer coisinha...
...por mais tramada que seja...

Mensagens populares deste blogue

Vejam só o que encontrei!

Resumindo :  Licenciatura em marketing (um profissional certificado); Gosto pela área comercial (amor cego que se venda barato);  De preferência, recém-licenciado (cabeça fresquinha e sem manhas); Com vontade de aprender (que aceite, feliz, todas as "óptimas" condições de trabalho que lhe oferecem, porque os ensinamentos não têm preço); Disponibilidade imediata (já a sair de casa e a arregaçar as mangas);  Carta de condução (vai de carro e não seguro, como a Leonor descalça do Camões);  Oito horas de trabalho por dia e não por noite (muito tempo luminoso para aprender, sem necessidade de acender velas). Tudo isto, a troco de: Um contrato a termo incerto (um trabalho p'rá vida); 550€ / mês de salário negociável (uma fortuna que pode ser negociável, caso o candidato seja um ingrato); Refeições incluídas (é melhor comer bem durante as horas de serviço, porque vai passar muita fominha a partir daquela hora do dia em que tiver de

Apneia

 Sempre esta coisa da escrita... De há uns anos para cá tornou-se uma necessidade como respirar. Tenho estado em apneia, eu sei. Não só, mas também, porque veio a depressão. Veio, assim, de mansinho, como que para não se fazer notar, instalando-se cá dentro (e cá fora). Começou por me devorar as entranhas qual parasita. Minou-me o corpo e o cérebro, sorvendo-me os neurónios e comendo-me as ideias, a criatividade e a imaginação. Invadiu-me a mente e instalou pensamentos neuróticos, medos, temores, terrores até. Fiquei simultaneamente cheia e vazia. E a vontade de me evaporar preencheu-me por completo, não deixando espaço para mais nada. Não escrevia há meses. Sinto-lhe a falta todos os dias. Mas havia (há) um medo tão grande de começar e só sair merda. E, no entanto, cá estou eu a escrever de novo. Mesmo que merda, a caneta deslizou sobre o papel e, agora, os dedos saltam de tecla em tecla como se daqui nunca tivessem saído. O olhar segue os gatafunhos, o pensamento destrinça frases e e

Dos blogues

DAQUI Comecei isto dos blogues faz tempo. Mais precisamente em 2011. Faz tanto tempo que este menino aqui já completou cinco anos em Agosto. Há cinco anos e picos que venho para aqui arrotar as minhas postas de pescada. Primeiro, em núpcias das delícias da maternidade; depois confrontada com o fim das núpcias; hoje, com a consciência de que a maternidade se expande por tudo o que é lado da vida da gente. Nunca, mas mesmo nunca, tentei tornar este blogue num lugar cuchi-cuchi, fofinho e queridinho. Este lugar não é de todo fofinho. Não há por aqui adoçantes da vida, nem marcas a embelezar o que se passa por dentro e por fora da minha experiência enquanto mãe, ou enquanto pessoa, ou até mesmo a comandar o que escrevo. Não me deixo limitar por "politicamente correctos" ou estereótipos que atentem contra a minha liberdade na escrita. Escrevo o que me dá na real gana, quando me dá na real gana. Em tempos, cheguei a ter por aqui uma publicidade, mas nada que me prendesse

Tenho uma tatuagem no meio do peito

Ontem, no elevador, olhei ao espelho o meu peito que espreitava pelo decote em bico da camisola, e vi-a. "Tenho uma tatuagem no meio do peito", pensei. Geralmente, não a vejo. Faz parte de mim, há dez anos, aquele pontinho meio azulado. Já quase invisível aos meus olhos, pelo contrário, ontem, olhei-a com atenção, porque o tempo já me separa do dia em que ma fizeram e me deixa olhá-la sem ressentimentos. À tatuagem como à cicatriz que trago no pescoço. A cicatriz foi para tirar o gânglio que confirmou o linfoma. Lembro-me do médico me dizer "vamos fazer uma cicatriz bonitinha. Ainda é nova e vamos conseguir escondê-la na dobra do pescoço. Vai ver que quase não se vai notar". Naquela altura pouco me importava se se ia notar. Entreguei o meu corpo aos médicos como o entrego ao meu homem quando fazemos amor. "Façam o que quiserem desde que me mantenham viva", pensava. "Cortem e cosam à vontade! Que interessa a estética de um corpo se ele está a morrer

Adolescência e liberdade

Os casos de adolescentes que se agridem têm inundado a comunicação social. Ora os irmãos, filhos de um embaixador, que espancaram um rapaz de 15 anos; ora o rapaz de 16 anos que espancou outro de 14 até à morte. Para a comunicação social, estes casos são "doces". Geram polémica, opiniões controversas, ódios e amores e duram, duram, gerando imensos artigos com informações e contra-informações. O primeiro caso, conhecido por "caso dos irmãos iraquianos" pode ter "origens xenófobas", diz-se por aí. A verdade é que se não teve "origens xenófobas" pode vir a ter "fins xenófobos". O facto de se sublinhar que os gémeos são iraquianos na divulgação das notícias sobre este caso está a abrir caminho para potenciar ódios de cariz xenófobo. A opinião pública revolta-se contra os agressores, que não tendo desculpa pelas agressões, seja qual for a origem destas, relacionam-nos com a sua nacionalidade. "Ah e tal, são iraquianos!"; "E