Avançar para o conteúdo principal

Agamémnon - Vim do Supermercado e Dei Porrada ao Meu Filho

Mais uma vez, fui ao teatro e trouxe de lá uma história para pensar.
Não só sobre o conteúdo em si, pois o assunto que aborda já anteriormente preenchia as minhas dúvidas, exaltações, indignações, mas sobre a forma como parte do público encara o teatro.

A peça é pesada, mexe connosco, utiliza elementos tabu como crianças, comida, livros, palavrões. Elementos estes que não nos deixam indiferentes e fazem-nos pensar, fazem-nos remexer nas nossas vidas , interrogarmo-nos sobre o que andamos aqui a fazer e sobre o significado de um mundo industrializado demais, capitalista demais, onde apenas consumimos e não criamos nada, porque já está tudo criado, pronto a digerir o mais rapidamente possível e antes que arrefeça, pois mal arrefeça passa a ser inconsumível.

No final da peça, tivemos a oportunidade de ter uma conversa com o actor (Gonçalo Waddington), o encenador (John Romão) e a assistente de encenação (Solange Freitas). Fizeram-se perguntas, cujas respostas foram extremamente esclarecedoras para mim, porque me deram a conhecer outras perspectivas do que tinha acabado de ver. Mas alguns elementos do público, revoltados com a presença das crianças, da comida e dos livros, deixaram-nos perceber que devem ter-se enganado na porta e que o lugar para onde se tinham preparado para ir não era o teatro, talvez o cinema, onde assistiriam a uma comédia romântica sensaborona que os faria rir ou chorar por segundos e de que se esqueceriam no momento preciso em que entrassem no carro de volta às suas vidas insípidas.

Não sou especialista em teatro (já o disse aqui), mas cada vez, o aprecio mais. Cada nova peça a que assisto e que mexe comigo, faz-me sentir mais rica, cultural e humanamente mais rica. Gosto de vir cheia de dúvidas e de respostas e as respostas não precisam de ser àquelas dúvidas, podem ser a outras que já moravam na minha mente há algum tempo.

E choca-me, isso sim choca-me, que haja gente que sai do teatro igualzinha ao que era quando lá entrou, que não cresça nem um bocadinho, que não aproveite a experiência que acabou de vivenciar... 

Devo informar essas pessoas que, como eu, foram ver esta peça, mas que, por alguma razão que desconheço, não a viram realmente:

- O Teatro não nos deixa incólumes, deixa marcas... Marcas que, de preferência, serão para sempre! 
   Para a próxima, não digam que não vos avisei!

Imagem descaradamente roubada do perfil de
Gonçalo Waddington no Facebook

A quem interessar, esta peça está em cena até 28 de Abril, no Teatro da Politécnica.

Comentários

  1. Tremendo Gonçalo!
    Vi e aprovo!

    Beijos

    ResponderEliminar
  2. Todas as pessoas têm a sua "vivência". e não é justo classificar
    conforme nos agrada.
    filhota..(é de pai)
    Tens de ter mais tolerância ...respeitar e não julgar os pontos de vista (que podem parecer contorversos e embora não nos agradem), são manifestados por outras cabeças "vivências".
    Mas deves sempre afirmar a tua visão sobre os acontecimentos e do dialogo nasce "sempre algo" (só espero que seja positivo)(no ponto de vista de """"ALGUEM"""").

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu tenho tolerância e respeito muito os outros e os seus pontos de vista. Às vezes até demais.
      Já levei muita patada à custa da minha tolerância, porque respeito, porque tento compreender e porque sempre, mas sempre, me coloco na posição do outro quando o tento analisar.
      Se há coisa que não me podem acusar, é de falta de tolerância.
      Mas não tolero mesmo (e porque todos nós temos as nossas irritaçõezinhas de estimação), é a ignorância como escolha, é o fechar de olhos por opção, é o não querer ver para não ter que agir...
      E essas pessoas, como as que assistiam à peça, que se fecham ao mundo e aos pontos de vista que não lhes agradam, com os quais não concordam ou simplesmente não entendem e se recusam a tentar entender, é que são intolerantes. Essas sim, são intolerantes!
      Bjs

      Eliminar
    2. Ah e não tenho nada contra quem vê comédias românticas, eu também as vejo.
      Só acho que não se pode ir aos dois sítios esperando terem-se as mesmas emoções.
      Bjs

      Eliminar
  3. Vim agradecer as palavras de conforto deixadas no meu blog...mt obgd e um grande beijinho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não era preciso agradeceres, foi de coração! Espero que corra tudo bem com a tua mãe.
      Beijinhos e coragem!

      Eliminar
  4. Eu não percebo como essas pessoas se dão ao trabalho de gastar dinheiro numa coisa que não lhes serve absolutamente para nada, nem os deixa sequer a pensar...mais valia terem ficado em casa!

    Beijinho*

    ResponderEliminar
  5. Adoro o actor, deve ser uma peça forte mas marcante. Não sou grande fã de teatro, é um facto, mas talvez isso se deva ao facto de nunca ter visto uma grande peça.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tens que experimentar ir ver uma boa peça, vais ver que não te vais arrepender!
      ;)

      Eliminar

Enviar um comentário

Vá lá, digam qualquer coisinha...
...por mais tramada que seja...

Mensagens populares deste blogue

Vejam só o que encontrei!

Resumindo :  Licenciatura em marketing (um profissional certificado); Gosto pela área comercial (amor cego que se venda barato);  De preferência, recém-licenciado (cabeça fresquinha e sem manhas); Com vontade de aprender (que aceite, feliz, todas as "óptimas" condições de trabalho que lhe oferecem, porque os ensinamentos não têm preço); Disponibilidade imediata (já a sair de casa e a arregaçar as mangas);  Carta de condução (vai de carro e não seguro, como a Leonor descalça do Camões);  Oito horas de trabalho por dia e não por noite (muito tempo luminoso para aprender, sem necessidade de acender velas). Tudo isto, a troco de: Um contrato a termo incerto (um trabalho p'rá vida); 550€ / mês de salário negociável (uma fortuna que pode ser negociável, caso o candidato seja um ingrato); Refeições incluídas (é melhor comer bem durante as horas de serviço, porque vai passar muita fominha a partir daquela hora do dia em que tiver de

Apneia

 Sempre esta coisa da escrita... De há uns anos para cá tornou-se uma necessidade como respirar. Tenho estado em apneia, eu sei. Não só, mas também, porque veio a depressão. Veio, assim, de mansinho, como que para não se fazer notar, instalando-se cá dentro (e cá fora). Começou por me devorar as entranhas qual parasita. Minou-me o corpo e o cérebro, sorvendo-me os neurónios e comendo-me as ideias, a criatividade e a imaginação. Invadiu-me a mente e instalou pensamentos neuróticos, medos, temores, terrores até. Fiquei simultaneamente cheia e vazia. E a vontade de me evaporar preencheu-me por completo, não deixando espaço para mais nada. Não escrevia há meses. Sinto-lhe a falta todos os dias. Mas havia (há) um medo tão grande de começar e só sair merda. E, no entanto, cá estou eu a escrever de novo. Mesmo que merda, a caneta deslizou sobre o papel e, agora, os dedos saltam de tecla em tecla como se daqui nunca tivessem saído. O olhar segue os gatafunhos, o pensamento destrinça frases e e

Dos blogues

DAQUI Comecei isto dos blogues faz tempo. Mais precisamente em 2011. Faz tanto tempo que este menino aqui já completou cinco anos em Agosto. Há cinco anos e picos que venho para aqui arrotar as minhas postas de pescada. Primeiro, em núpcias das delícias da maternidade; depois confrontada com o fim das núpcias; hoje, com a consciência de que a maternidade se expande por tudo o que é lado da vida da gente. Nunca, mas mesmo nunca, tentei tornar este blogue num lugar cuchi-cuchi, fofinho e queridinho. Este lugar não é de todo fofinho. Não há por aqui adoçantes da vida, nem marcas a embelezar o que se passa por dentro e por fora da minha experiência enquanto mãe, ou enquanto pessoa, ou até mesmo a comandar o que escrevo. Não me deixo limitar por "politicamente correctos" ou estereótipos que atentem contra a minha liberdade na escrita. Escrevo o que me dá na real gana, quando me dá na real gana. Em tempos, cheguei a ter por aqui uma publicidade, mas nada que me prendesse

Tenho uma tatuagem no meio do peito

Ontem, no elevador, olhei ao espelho o meu peito que espreitava pelo decote em bico da camisola, e vi-a. "Tenho uma tatuagem no meio do peito", pensei. Geralmente, não a vejo. Faz parte de mim, há dez anos, aquele pontinho meio azulado. Já quase invisível aos meus olhos, pelo contrário, ontem, olhei-a com atenção, porque o tempo já me separa do dia em que ma fizeram e me deixa olhá-la sem ressentimentos. À tatuagem como à cicatriz que trago no pescoço. A cicatriz foi para tirar o gânglio que confirmou o linfoma. Lembro-me do médico me dizer "vamos fazer uma cicatriz bonitinha. Ainda é nova e vamos conseguir escondê-la na dobra do pescoço. Vai ver que quase não se vai notar". Naquela altura pouco me importava se se ia notar. Entreguei o meu corpo aos médicos como o entrego ao meu homem quando fazemos amor. "Façam o que quiserem desde que me mantenham viva", pensava. "Cortem e cosam à vontade! Que interessa a estética de um corpo se ele está a morrer

Adolescência e liberdade

Os casos de adolescentes que se agridem têm inundado a comunicação social. Ora os irmãos, filhos de um embaixador, que espancaram um rapaz de 15 anos; ora o rapaz de 16 anos que espancou outro de 14 até à morte. Para a comunicação social, estes casos são "doces". Geram polémica, opiniões controversas, ódios e amores e duram, duram, gerando imensos artigos com informações e contra-informações. O primeiro caso, conhecido por "caso dos irmãos iraquianos" pode ter "origens xenófobas", diz-se por aí. A verdade é que se não teve "origens xenófobas" pode vir a ter "fins xenófobos". O facto de se sublinhar que os gémeos são iraquianos na divulgação das notícias sobre este caso está a abrir caminho para potenciar ódios de cariz xenófobo. A opinião pública revolta-se contra os agressores, que não tendo desculpa pelas agressões, seja qual for a origem destas, relacionam-nos com a sua nacionalidade. "Ah e tal, são iraquianos!"; "E