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Sensibilidade

Eu não sou nenhuma especialista em crianças, mas sei distinguir uma criança de oito anos de uma de seis e sei perceber que as necessidades de uma, diferem das necessidades de outra, que a de oito tem uma capacidade de discernimento e compreensão que a de seis ainda não tem. Para isto, não é preciso ser-se nenhum expert em educação ou pedagogia, basta ter-se alguma sensibilidade.

É incrível como pessoas, que estudam para serem professoras, conseguem andar, anos a fio, a trabalhar sem se aperceberem que não podem exigir o mesmo a uma criança de seis anos que exigem a uma de oito. E pior, andam todos esses anos, convictas que são elas que estão certas, porque foram elas que estudaram e são elas que possuem o canudo que as certifica como especialistas na matéria. Mas o curso pode dar-lhes muitos conhecimentos, muita teoria, mas não lhes dá aquilo, que não têm por natureza - a sensibilidade. Esta, ou se tem ou não se tem. E se não se tem, há que procurar trabalhá-la dentro nós, especialmente se precisamos dela para fazer o nosso trabalho e, quem trabalha com crianças, definitivamente precisa ter alguma sensibilidade, caso contrário, nunca deixará de fazer um trabalho medíocre. 

O que mais confusão me faz nisto tudo, é estas pessoas, "doutoradas em educação", virem-me dizer que elas é que sabem como devem agir com o meu filho e ver, no semblante dos filhos delas, a tristeza da incompreensão e uma postura que reflecte uma exigência descabida à sua idade. E vangloriarem-se do trabalho miraculoso que fizeram com o meu filho, que na realidade não foi feito por elas, foi feito pela paixão que ele tem pela matéria em causa e pela maturidade que a idade lhe foi dando. Mas, a sensibilidade que escasseia, também as impede de verem isso e, de peito emproado, dizem "Como vê, o meu método é que está correcto" e vão felizes e contentes para casa, na certeza que a elas se deve aquilo que o seu método, isento de sensibilidade, apenas soube atrasar.

Comentários

  1. O pior erro é não saber ver, olhar e perceber. E no fim admitir que se errou e mudar de métodos!
    Infelizmente, cada vez há mais pessoas carregadas de certezas sobre o que fazem, quando na realidade são mesmo medíocres, como disseste.

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  2. As educadoras deviam dar mais ouvidos aquilo que os pais têm para dizer. Afinal, quem conhece melhor as crianças?
    :)

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  3. Naná,
    A questão é que a pessoa em causa até mudou um pouco o método, mas não o assume e garante que continua a utilizar o mesmo, que é o que pensa ser correcto.
    E não se apercebe que se mantivesse o método que defende completamente inalterado, por maior que fosse a paixão do meu filho pela matéria, ele teria desistido por sucumbir à frustração de não conseguir fazer o mesmo que os miúdos (seus colegas, de oito anos na altura e nove agora) conseguem.
    Bjs

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  4. Paula,
    Neste caso, não foram as educadoras, mas também se aplicará a algumas, com certeza.
    Bjs

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  5. MUitas vezes n pressa de tornar uma massa homogénea dentro da sala para ser mais fácil leccionar metemos todo no mesmo triturador e o sumo é igual. ou não, somente parece igual. nao importa os ingredientes importa sim o produto
    kis .=) e um beijo À tua mãe , minha colega de profissão mulher da minha altura quiçá da mesma idade, quiçá aposentada como eu

    kis .=)

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  6. Avogi,
    Mas se não tivermos em conta os ingredientes, a massa homogénea sabe mal!
    Bjs

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  7. A sensibilidade é precisa para cada momento da vida, e mais ainda quando se trabalha com pessoas. Sou professora e este é um dos meus lemas. Gostava tanto que todos os pais viessem realmente falar comigo para colaborar e não apenas para se queixarem. TPC a mais (tadinho) os colegas são maus (e eles são sempre santos) etc. Aconteceu-me dar os parabéns a uma mãe pela educação do filho que me disse: agradeço mas tenho pena de receber parabéns por algo que devia ser comum e não extraordinário. Ah pois é!

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  8. Profg,
    É verdade, a educação deve ser dada pelos pais, tem que ser dada pelos pais, mas acho que muitos pensam que essa é uma função da escola e atribuem essa responsabilidade aos professores.
    Eu nunca permitirei que o meu filho seja educado pela escola, ele deve ser educado por mim e pelo pai, no entanto os professores não deixam de ter um papel muito importante na vida e na formação das crianças e, é por isso que penso que a falta de sensibilidade pode prejudicar um crescimento saudável e que se não houver comunicação entre pais e professores não se consegue que as crianças tenham a segurança para se exprimirem e darem o seu melhor. É preciso que os professores entendam com quem estão a lidar, porque cada criança é diferente da outra e cada pessoa "funciona" de maneira diferente e os pais são quem, melhor do que ninguém, podem dar essa informação aos professores.
    E o trabalho em conjunto é sempre muito mais produtivo do que quando cada um "puxa para seu lado", não é? ;)
    Bjs

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